sábado, 31 de dezembro de 2011

Liberdade, de Jonathan Franzen

Quando ouvi falar do romance "Liberdade" de Jonathan Franzen e do pretensioso epíteto de "O livro do Ano, e do Século", resolvi procurar saber mais sobre a obra. Li análises de críticos que confirmavam o brilhantismo do texto, embora se reservassem denotá-lo nos mesmos termos críticos do "The Guardian". Também procurei a opinião de leitores casuais cujas opiniões eram divergentes em seus comentários. Alguns consideravam um romance maravilhoso. Um verdadeiro tratado biográfico de uma família que atravessa quatro importantes décadas como cenário. Outros eram da opinião de que o texto era insosso e invariavelmente perdia-se em diálogos sem sentido ou simplistas demais.
Resolvi adquirir um exemplar e conferir por conta própria. Foi uma agradável experiência que me despendeu cada espaço de tempo livre das duas últimas semanas. O livro é realmente esplêndido e fico feliz por ser o último livro que tive oportuniade de ler este ano.

A história narra a vida intrincada da família Berglund. Uma família liberal estadunidense, de classe média, que acaba sendo sacudida pelas reminiscências do passado do casal, Walter e Patty Berglund. A narrativa atravessa os conturbados anos 1970, e se estende até o final da primeira década do século XXI, exibindo um panorama socioeconômico do País. Tece um painel realista sobre o problema da conservação ambiental e da atual preocupação acerca da incapacidade do planeta de suportar o desastroso impacto de uma sociedade em constante crescimento, com hábitos inconseqüentes de consumo e ocupação, em nome do sonho da aceitação, estabilidade e segurança. 

A obra também menciona a neurose e o medo que se instalou nos EUA após os atentados do 11 de setembro, e a consequente retaliação do governo Bush ao declarar a guerra ao terrorismo, com seus desdobramentos. Discorre sobre a opinião nacional divergente, movida pela mídia, após o fracasso das tropas em encontrar um arsenal de armas nucleares no Iraque - suspeita que levara o povo, com orgulho ferido, a apoiar a atitude do governo de invadir aquele País. A mesma mídia, aliás, que parecia apoiar aquelas medidas pelas mesmas razões. Tudo isso pulverizado em meio a narrativa intrincada sob a perspectiva de um casal em conflito com as suas escolhas, dúvidas, seus erros e acertos, e com o persistente e sempre presente espectro do passado. 

Dispensando o moralismo açucarado e pretensioso, o autor esmiuça a vida dos Berglund magistralmente, e apresenta personagens realistas com os quais qualquer leitor pode se identificar facilmente. Sem perder o ritmo, Franzen apresenta um final, se não ideal, pelo menos emocionante e comovente.
Enfim, após a leitura, só pude concluir o mesmo que a marcante personagem, que resolve escrever sua reveladora auto-biografia em terceira pessoa, intitulada como uma espécie de consolo para si mesma: "Todo mundo erra". 
Resultado: para mim, foi o melhor livro que li este ano.

"Liberdade" é uma publicação da editora Companhia das Letras.