Os famosos personagens motorizados estão de volta na nova animação da Pixar,
Carros 2. Seu lançamento se dá cinco anos após o seu antecessor de 2006. O roteiro acompanha essa cronologia mas muda a receita e envolve o público numa aventura de muita ação e mistério.
Há um certo estranhamento logo na abertura, onde acompanhamos um novo personagem, o espião Finn McMíssil na iminência de uma grande descoberta num complexo de estações petrolíferas em meio a um mar tempestuoso e turbulento. Nesse instante, ele é descoberto pelos vilões e protagoniza uma fuga espetacular no melhor estilo James Bond. Aliás, esse estilo de filmes de espionagem é que vai dar o tom da narrativa.
Após a lograda tentativa de eliminar o agente e uma sugestiva frase do líder dos capangas, chamado Professor Z, estamos de volta à velha Radiator Springs onde encontramos o reboque caipira Mate, alucinado, depois de perceber que seu melhor amigo, Relâmpago McQueen, está de volta à pequena cidade para gozar merecidas férias após a temporada de corridas. Na calorosa recepção reencontramos todos os personagens da primeira aventura e as cenas seguintes relembram episódios hilários da história anterior, sendo muito mais divertidas para quem assistiu o primeiro filme. Há inclusive uma menção honrosa ao Hudson Hornet, o velho 'Doc', corredor aposentado e mentor no primeiro longa.
Mas não será agora que Relâmpago MacQueen gozará de descanso. Em uma sequência hilária ele acaba aceitando o desafio de disputar o Grand Prix Mundial, cujo prêmio será competido por campeões do mundo todo, os carros mais velozes do mundo. O campeonato é patrocinado pelo magnata Miles Eixodaroda para comprovar a eficácia de seu novo combustível, o Allinol, ecologicamente correto e que susbstituirá os combustíveis derivados do petróleo. Todos o corredores irão utilizá-lo nas corridas que se darão em vários países. Só que dessa vez McQueen resolve levar consigo seu amigo Mate. E é aqui que está a grande sacada dessa sequência. As constrangedoras trapalhadas do ingênuo Mate, que se tornam uma grande dor de cabeça para o Relâmpago, são divertidíssimas.
Assim, o principal protagonista de Carros 2 não é o Relâmpago McQueen, mas o velho reboque Mate. O que achei uma jogada arriscada da produção, por causa do apego da criançada ao herói turbinado - levei meu filho ao cinema para assitir e de vez em quando ele me perguntava: "Cadê o Relâmpago MacQueen?". Bem, ele é importante para a trama, mas fica em segundo plano. Mas os roteiristas (Ben Queen, John Lasseter, que também é o diretor, Brad Lewis e Dan Fogelman) sabem o que fazem.
No primeiro longa o argumento era a transformação do playboy autosuficiente e ambicioso em um personagem com sentimentos, que passou a reconhecer a necessidade da amizade e encontrou a beleza nas coisas simples da vida. Houve romance e uma clara transmissão de valores que acabaram resultando numa narrativa madura, mais voltada para o público adulto. O arco da história de McQuenn era uma reflexão da própria vida pregressa do diretor John Lasseter como um workaholic que não dava devida atenção ao convívio familiar.
A história aqui, não é de transformação, mas de confimação. Portanto, Carros 2 é mais descolado. Os valores morais estão lá também, mas não escancarados como no primeiro. A preocupação aqui é entreter de forma descompromissada a criançada. A escolha de Mate como personagem central é perfeita já que o próprio era responsável pelas sequências mais engraçadas do primeiro. Nessa aventura, todo o seu potencial é explorado. Principalmente a partir do momento em que ele se envolve acidentalmente na conspiração internacional e acaba sendo confundido com um agente secreto americano. Alías, a sequência que envolve Mate nesse imbróglio, que se dá num banheiro japonês enquanto ele está às voltas com uma parafernália eletrônica, é divertidíssima. Depois da confusão a gente acaba se perguntando quem é mais ingênuo, o caipira Mate ou os inteligentes agentes Finn McMíssil e a bela Holley Caixadebrita que enxergam na sua carroceria enferrujada, no seu sotaque e no seu jeito, o disfarce perfeito de um agente veterano. Daí por diante a aventura de espionagem é uma verdadeira corrida - literalmente - para descobrir quem está por trás da sabotagem dos competidores e por quê.
A reprodução das cidades que dão cenário às corridas de rua e perseguições da película foram o principal desafio dessa sequência, em termos técnicos. A primeira versão de Carros foi ambientada em uma cidade fictícia do deserto estadunidense. Agora, a ação se dá nas ruas de Tóquio, Porto Corsa, na Itália e em Londres. Essa variedade de paisagens conhecidas provou-se um desafio para a equipe técnica que também foi responsável pela Paris da animação
Ratatouille, de 2007. Cada prédio foi construído digitalmente pelo sofware
CityEngine, planejado para construir ambientes urbanos em 3D, tornando
Carros 2 a maior produção da Pixar em termos de cenários.
Carros 2 acerta na trama ágil e divertida, na escolha de Mate como personagem central e possui um apuro gráfico de encher os olhos! Os novos personagens estão bem introduzidos (o engraçado carro italiano de fórmula 1 Francesco, é o desafiante do McQueen da vez), os elementos que compõe a narrativa e as locações em outros países ampliam ainda mais o seu universo. Pena que não deu para assistir em 3D.