quarta-feira, 29 de julho de 2009

Eu continuo participando!

  A campanha 'Xixi no banho'- que comentei aqui- entrou em sua segunda fase com um filme que mantém o mesmo conceito lúdico, leve e divertido da anterior. A ação continua lembrando a importância desse hábito saudável e, de maneira bem democrática, apela para que toda criatura que faz xixi participe.

Vívidos 50 anos

  Fiquei sem palavras para descrever este interessante comercial em comemoração dos 50 anos da câmera Olympus Pen. O filme, realizado em stop motion, é simplesmente cativante.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Com a cabeça na lua

   Nas noites de Lua cheia, mesmo após os dias mais agitados gosto de ficar admirando o redondo astro no céu, muitas vezes do telhado de casa. A luz do luar cria um clima ideal para a meditação e induz em mim uma profunda reflexão da vida como um todo. Para as almas românticas é o despertar da inspiração e das explosões de amor.

  A primeira vez que mirei a Lua através das lentes de um telescópio foi mágico. As lágrimas correram dos meus olhos. Estava minguante. Era como se repentinamente o tempo tivesse estacionado por um instante, enquanto aquele imenso disco semi-iluminado seguia o seu curso silencioso, sem dar a mínima para mim. Eu podia ver as sombras dos vales e montanhas projetadas pela luz solar que banhava parte de sua superfície que empalidecia de estonteante beleza. Apesar de já ter visto dezenas de fotos das mais diversas distâncias do astro, nada se comparava àquela singular experiência. Era como se uma janela tivesse se aberto para o um horizonte de excelência e harmonia. Enquanto um misto de maravilha e contentamento tomava conta do meu ser, eu capturava aquele momento de transcendência que guardaria como uma das visões mais espetaculares que tivera chance de vivenciar.

  Desde tempos imemoriais, essa esfera selenita incita a imaginação da mente humana com fascínio e terror. Na ausência de explicações para o espetáculo noturno, os povos primitivos recorreram às historias extraordinárias gerando lendas e deuses que facilitavam a compreensão de tudo. Os deuses tinham poderes sobrenaturais e governavam os fenômenos da natureza, sendo capazes de alterar o seu equilíbrio. Os astros eram considerados entidades que governavam o dia e a noite. A Lua era a deusa ou deus que envolvia de mistérios o céu noturno. Há mais de 3.000 anos atrás, os Assírios e os povos do Sul da Arábia comemoravam o décimo quinto dia do terceiro mês de seus calendários primitivos – o dia da lua cheia no calendário lunar - como um dia especial ao deus-lua. Prestavam cultos e faziam oferendas. Já os egípcios, consideravam a Lua um ponto de parada da alma em sua jornada para o Céu.

   Os eclipses que ocorrem periodicamente deram lugar a todo o tipo de superstições e mitos que estavam normalmente associados a maus presságios. Quando o Sol e a Lua eram eclipsados, nossos antepassados interpretavam o fenômeno como se os astros tivessem sido abalados por forças opostas. A mente primitiva imaginava monstros malignos, dragões e serpentes que procuravam usurpar o trono dos deuses. Muitas culturas desenvolveram rituais que representavam o embate das forças do bem e do mal na expectativa de contribuir para a vitória de seus deuses e o retorno da ordem natural das coisas. Em alguns casos organizavam danças que eram executadas com grande algazarra, a fim de espantar o monstro que tentava devorar o astro. Na china, era hábito lançar flechas em direção aos eclipses e bater tambores com o mesmo fim. Chung Wang, quarto imperador da dinastia dos Hsai, condenou à morte os astrônomos Hsi e Ho porque não previram o eclipse do Sol de 22 de outubro de 2.137 a.C. – tamanha a idéia de importância desses fenômenos para o bem estar do império.

  Conta-se que Cristovão Colombo se utilizou das informações do livro do astrônomo judeu Abraham Ben Samuel para conseguir dos indígenas alimentos e água para sua viagem de retorno à Europa. Sabendo antecipadamente que um eclipse lunar ocorreria naquela noite ele se dirigiu aos nativos ameaçando apagar a Lua. Quando começou o eclipse, os índios viram que ele não estava brincando e começaram o trabalho.

  Nem sempre a Lua causava reverência e espanto. O sonho de viajar até o disco prateado já transitava há muito, nas mentes devaneadoras e aventureiras. A primeira descrição de uma jornada até a Lua data do século II. Nela, Luciano Samósata conta como uma violenta tempestade oceânica arremessa um navio tripulado à superfície lunar. Essa narrativa encontra-se no livro Histórias Verdadeiras. Obviamente, esse conto não tem nada de realista, e parece ter sido a intenção do autor fazer uma crítica a sociedade da época - nossos heróis se vêem em meio a um conflito entre os habitantes da Lua e os habitantes do Sol, conseguindo retornar ao nosso planeta apenas após uma trégua entre eles.

  Uma abordagem um pouco mais científica foi feita por Johannes Kepler (1571-1630), em 1593, quando se perguntava como os fenômenos celestes seriam percebidos por um observador que estivesse na superfície da Lua. Defensor da concepção heliocêntrica, que postulava a Terra e os demais planetas girando em torno do sol - simpatizantes desse conceito eram perseguidos pelos geocentristas - resolveu desenvolver um conto de ficção para disfarçar as idéias que exporia no livro. Dessa forma, imaginou que elas pudessem ser mais aceitáveis aos aristotélicos. Imbuído dessas considerações, ele escreveu “Sonnium”. O livro narra a aventura de Duracotos que, após ser expulso de casa por sua mãe, consegue um trabalho somo assistente do astrônomo dinamarquês Tycho-Brahe (1546-1601) onde apreende o conhecimento dos corpos celestes. Alguns anos depois, Duracotus volta para casa e conta tudo para sua genitora. Esta, por sua vez, conta-lhe que já sabia daquilo tudo, graças às revelações de uma entidade benéfica que ela chamava de “o demônio de Lavaria”. Por meio desse ente, eles são transportados para a Lua onde são instruídos sobre a astronomia e a biologia lunares. Através dessa fantasia, Kepler divulgava suas idéias heliocêntricas tentando não gerar polêmica.

  Sua prudência porém, não adiantou muito e após distribuir seu conto entre um pequeno número de pessoas influentes, um incidente lhe impediu de publicar o livro. A forte personalidade de sua mãe, Catarina Kepler, provocou diversas acusações caluniosas por parte dos vizinhos. Em 1620, ela se tornou réu do tribunal da inquisição acusada de praticar magia negra – em parte porque interpretaram seu livreto literalmente. Kepler a defende e, depois de 2 anos ela é libertada. Mas ele ficou conhecido como filho de feiticeira até a sua morte.

   Mas foi apenas entre 1865 e 1870, que a publicação de dois livros intitulados “Da Terra à Lua” e “Ao Redor da Lua” aproximaria a ficção de conquistar o nosso satelite à realidade. O autor era Júlio Verne que, com vários ingredientes, fazia as aventuras narradas em seus livros cientificamente palatáveis, descrevendo e antevendo maravilhas tecnológicas que surgiriam no século seguinte. Vários detalhes envolvidos na empreitada de suas estórias previu com riqueza de detalhes os passos que daria, um século mais tarde, o programa Apollo, da NASA (Agência Espacial Norte Americana).

  O sonho de pisar na Lua não era mais uma arroubo de fantasia e misticismo, mas uma possibilidade dentro dos limites da ciência e do conhecimento humano. Um sonho realizável, bastando apenas o desejo de alcançá-lo.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Dinossauros, gorilas e Miss Ann Darrow

  No final da semana passada fui a um sebo que reabriu há alguns meses atrás aqui na cidade, à procura do romance “Contato” de Carl Sagan. Aproveitei o momento para dar um terno abraço na saudosa proprietária do estabelecimento, uma querida senhora que desde meus tempos de adolescência guardava os livros e revistas que me interessavam e que não podia pagar no momento – tinha que juntar o dinheiro do lanche para comprar. Quando voltava para buscá-los, ela ainda me dava um desconto no preço.

   Não encontrei o livro que procurava, mas acabei adquirindo outro sobre um assunto que me apaixona desde criança: dinossauros. Escrito por Paul M. Barrett, paleontólogo do Museu de Historia Natural de Londres, o livro “Dinossauros - Uma Historia Natural”, publicado pela Martins Fontes, foi um verdadeiro achado – bem como o valor que paguei por ele. Além de conter informações das descobertas mais recentes da paleontologia, a obra é ricamente ilustrada e deixa qualquer interessado ou mesmo quem não dá a mínima para os bichões, boquiaberto. O autor também foi consultor da série “Parque Pré-Histórico”, documentário produzido pela BBC de Londres - DVD que ganhei de presente de aniversário este ano -, que foi transmitida em partes pelo programa “Fantástico”, da Rede Globo.

   Eu não saberia precisar quando e como surgiu o meu entusiasmo por essas maravilhosas criaturas extintas. O certo, é que desde criança faço parte da lista dos deslumbrados por esses animais. Acho que um dos primeiros contatos com essas criaturas fora através de um livro chamado “Monstros da Pré-História”, da Editora Abril, que era na verdade, uma compilação de uma obra ainda maior intitulada “Os Bichos”, lançada em quatro volumes no final da década de 1970. Tive o prazer de ter essa enciclopédia na estante, quando era mais jovem - gastei metade de um mês de salário do meu primeiro emprego para obtê-la. A obra tratava da vida animal e era cheia de ilustrações belíssimas feitas em aquarela. No quarto volume havia uma seção sobre os animais pré-históricos. Naquela época, os dinossauros ainda eram representados em posição ereta e com a cauda rente ao chão, como suporte, o que mais tarde, durante da década de 1980 descobriu-se estar anatomicamente errado. A cauda dessas criaturas era sustentada reta atrás do corpo, atuando como uma espécie de contrapeso. Apesar de não serem exatas, as ilustrações correspondiam à interpretação que os especialistas davam aos fósseis na época. Foi através de livros como esse que o portal das eras passadas se abriu para mim, resultando no despontar do meu interesse científico. Pude contemplar e até sonhar com o mundo dos dinossauros – sonhei literalmente com um braquiossauro pastando nas proximidades da minha casa.

  Embora tenha obtido uma boa dose de conhecimento sobre como era a vida no nosso planeta há milhões de anos atrás e aprendido, entre outras coisas, o significado da palavra “extinção”, a leitura que verdadeiramente definiu meu fascínio pelos dinossauros ocorreu algum tempo depois. Foi um livro de Edgar Wallace que levou minha imaginação até locais ainda não descobertos no globo onde teriam sobrevivido remanescentes desses répteis colossais. O livro, na verdade, surgiu do argumento para cinema que o autor deixou incompleto quando morreu em 1932, enquanto se dirigia para Hollywood: King Kong. O texto se transformou no filme dirigido por Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack que tirou o estúdio RKO do buraco – a película foi produzida durante a Grande Depressão, período obscuro da economia estadunidense. Seu lançamento, em 1933, foi um estrondoso sucesso de bilheteria e a história do gorila gigante que se apaixona por uma jovem e linda mulher ganhou o mundo desde então, tornando-se um clássico que atraiu e influenciou gerações. Gerando uma seqüência no mesmo ano (O filho de Kong), e dois remakes: uma produção meio erotizada de 1976 e outra espetacular, mas exagerada de 2005, dirigida por Peter Jackson.

   De fato, o livro não apenas me apresentou um mundo repleto de monstros – uma ilha, na verdade – mas foi também o primeiro livro que li do começo ao fim. Um feito grandioso para mim na época, embora não lembre quantos anos eu tinha. Posso dizer que, após aquela leitura peguei gosto pela coisa e nunca mais parei de ler. Naquela narrativa repleta de aventura, perigos e romance, recheada de criaturas gigantescas e bizarras, eu encontrava os ingredientes ideais para aflorar ainda mais a já fervilhante paixão pelos dinossauros. Embora fossem os coadjuvantes, eles eram tão espetaculares quanto o gorilão apaixonado - uma encenação de “a bela e a fera” em proporções titânicas. Muitas outras coisas me marcaram naquela leitura além dos dinossauros e de Kong: o Empire State Building, o arranha-céu onde Kong trava sua derradeira batalha com os aviões que o alvejam (seqüência imortalizada que se tornou um ícone pop); Nova York, a cidade que nunca dorme; e a belíssima Ann.

  Ann Darrow foi a primeira personagem feminina que me encantou e mexeu com a minha imaginação. Ainda me lembro da passagem, logo nas primeiras páginas, onde o incansável diretor de cinema Carl Denham deixa o cargueiro Venture em busca do rosto que viria a interpretar e dar vida à protagonista de seu filme. Ele segue convicto pelas ruas de Nova York, tentando descobrir nos rostos das mulheres que caminhavam pelas calçadas ou sentadas nos bancos das praças, a expressão ideal. Então, finalmente, num desses acontecimentos fortuitos, ele se depara com Miss Darrow.

  Tenho que admitir que Ann Darrow fora, para a minha mente adolescente e romântica, o estereótipo de mulher ideal. Assim como Denham se lançara em busca do rosto perfeito para o seu filme, fora plantado em mim o conceito da busca de uma companheira perfeita – uma idéia meio antiquada e platônica para a minha idade na época, eu confesso.

  Mas, num certo sentido, diferentemente dos dinossauros que hoje existem somente na forma de fósseis ou na minha imaginação, Ann é bem real. E da mesma maneira como o filme de Carl Denham não poderia existir sem Miss Darrow, a parte mais substancial do meu ser não poderia subsistir sem Ann.