domingo, 22 de maio de 2011

Um domingo qualquer

Já fui criança. Quem não é já foi um dia, claro. Não sei qual era o jargão que usava todas as vezes que queria alguma coisa. Como eu passava a maior parte do dia com a minha mãe, acho que era o natural MANHÊÊÊ... Muitas vezes ouvia ela dizendo sarcasticamente, já enjoada de ouvir a mesma coisa o dia inteiro, que eu devia chamá-la pelo nome de algum doce. Afinal, as crianças adoram doces (e lógico, mãe e pai também).

Acordo por volta das 6h da manhã, noutro dia típico de domingo. Procuro levantar na frente do meu filho e da minha esposa para colocar os pensamentos em ordem e vou para meu pequeno escritório (que funciona meio como estúdio e sala de estar), enquanto navego pela internet e acesso o meu mailbox. Neste fim de semana trouxe trabalho extra para casa e utilizo essa janela de tempo, entre 6 e 8 horas da manhã, para definir o que fazer primeiro. Hoje não vai dar para sair com a família.
Estou diante do computador, aturdido em meio ao universo binário traduzido em forma de imagens e textos na minha tela, quando de repente irrompe pela porta do meu quarto um garotinho de 5 anos de idade com olhos meio murchos de quem acabou de acordar. Ele fica parado na entrada coçando a barriga e então solta um “ÔÔ PAAI...”. O pedido vem em seguida: “...faz chocolate pra mim?” . Lá vou eu pra cozinha preparar o chocolate (de quebra, já faço outro café pra mim também) enquanto ele vai vacilante para a sala ligar a TV.

Retorno para meus afazeres, numa tentativa de me concentrar e coloco uma música do Vangelis ao fundo, para inspirar . Meia hora depois meu filho aparece de novo: “ÔÔ PAAI (a cadência é mais ou menos essa), posso jogar Guerra nas Estrelas?” Ok, aqui cabe uma explicação: O pai é um fã de carteirinha dos icônicos personagens espaciais criados pelo George Lucas. E que coincidência, meu filho também é! Só que enquanto eu jogo títulos voltados para adultos como Star Wars Battlefront ou Republic Commando, meu pequeno padawan tem a sua própria versão do universo da Lucas Arts, o game Lego Star Wars; que, devo admitir, é um dos jogos mais divertidos que eu já tive o prazer de experimentar.

Estou novamente diante do computador, examinando o que servirá de base para a criação de novas estampas e procurando montar textos que se encaixem. Após me desejar um bom dia e depois uma boa conversa, minha esposa já está num vai e vem frenético, também com seus afazeres. Minutos depois, um som irrompe a melodia que enchia o ar: “ÔÔ PAAI... me ajuda?”. Lá vou eu, agora para tentar ajudar a salvar o bonequinho que o meu filho controla no jogo de algum 'buraco' onde ele o meteu ou resolver algum puzzle comum nesse tipo de game.


Dali a pouco ele desiste de jogar e vai brincar com seus brinquedos. Ouço meu filho fazendo o som de um motor de carro e o barulho do choque entre os carrinhos enquanto ele simula algum acidente exagerado que desafia as leis da gravidade. Só então vejo um gato passando correndo pelo corredor em frente à minha porta na direção de onde ele está. Fico somente aguardando. Alguns minutos depois o Daniel aparece: “ÔÔ PAAI, o gato não quer deixar eu brincar”. Dedé, nosso gato, é uma espécie de companheiro do meu filho. Ele é um filhote ainda, e adora brincar com tudo o que se move. Os carrinhos do Daniel são alguns dos seus brinquedos prediletos. Mas noto que ultimamente meu filho tem deixado o gato bem sem-vergonha com as suas brincadeiras de correr de um lado para o outro para se esconder dele, mergulhando atrás dos móveis. O Daniel fica parado, imóvel, com o Dedé olhando para ele sem mover um músculo mas em posição de ataque. Quando meu filho faz um movimento surpresa o gato corre saltitando até ele e os dois rolam no chão. Duas crianças numa brincadeira perigosa. Por causa disso, o gato já não pode mais ficar muito tempo dentro de casa. Quando o Daniel aparece no corredor engatinhando para lá e pra cá fazendo 'miau' vejo que é hora de dar uma volta com ele.
O dia está bonito, tem sol e o céu está com aquele belo tom azul típico dos dias de inverno. Levo meu filho para andar de bicicleta numa calçada próxima enquanto caminho a pé tentando acompanhá-lo. Quando voltamos já está quase na hora de almoçar, metade do dia se passou e eu não fiz nem a metade do que me programei para fazer. Talvez meu sobrinho possa passar a tarde lá em casa para brincar com o Daniel.
Do contrário, já sei o que me espera na outra metade do dia. E quer saber de uma coisa? Não consigo pensar como seria minha vida sem isso.

domingo, 15 de maio de 2011

Enfim, fui assistir Thor, O Deus do Trovão

  Desde os tempos de criança Thor sempre foi um dos meus heróis preferidos. O cara andava metido em sua pomposa armadura de capa vermelha, munido de um martelo mágico chamado Mjolnir (que ninguém era capaz de empunhar a não ser ele ), invocava tempestades em seu auxílio e, de quebra, era um deus amigo dos mortais. Não podia deixar de admirá-lo. Havia toda aquela mitologia nórdica e aquela linguagem antiquada dos deuses e criaturas de nomes estranhos que não me intimidavam e, ao contrário, foram abrindo caminho para leituras posteriores que aumentaram demasiadamente meu interesse por literatura fantástica numa época onde eu só lia gibis.
  Quando soube que Thor seria adaptado para os cinemas recebi a notícia com expectativa maior do que a de qualquer outro super-herói que já tinha virado filme, da Marvel Comics ou da DC Comics. Após o gratificante resultado dos longas de Homem de Ferro e O Incrível Hulk, eu esperava o melhor de Thor, já que a própria Marvel Studios vem produzindo os filmes dos seus personagens - pelo menos daqueles cujos direitos não foram vendidos para outros estúdios - permitindo que os heróis atuem num mesmo universo, semelhante ao que acontece nos quadrinhos. Encontramos referências do Capitão América no Homem de Ferro 2, Tony Stark dá o ar de sua graça no Incrível Hulk e os agentes da SHIELD, a misteriosa organização que amarra os filmes, preparam a chegada para Os Vingadores (outra carta na manga da Marvel). O fato de se manter o mais fiel possível ao que os fãs acompanham nos quadrinhos e o roteiros bem amarrados dos filmes, que funcionam tão bem na telona quanto nas HQs (faltando só as onomatopeias), geram o sucesso de franquias com muita coisa para explorar. E o fantasioso universo de Thor, criado por Stan Lee, Larry Lieber e Jack Kirby em 1962, possui aventuras de proporções épicas.
  Não foi sem razão que fui para o cinema na maior expectativa. Nem fiz questão de assistir em 3D, porque a produção não foi capturada com essa tecnologia e só entrou nessa onda na pós-produção. Esse processo não gera bons resultados e ainda pode estragar bons momentos da película (muita gente reclamou do 3D distorcido em Fúria de Titãs e agradeceu a Warner Bros. por não converter o último Harry Porter para o formato).
  A narrativa começa mostrando o primeiro contado entre os asgardianos (que vivem em outra dimensão) e os seres-humanos que os tomaram por deuses, surgindo assim, a mitologia nórdica. Relata em seguida um conflito ancestral de Asgard contra o reino dos Gigantes de Gelo, que vai ser o estopim da trama. Depois, somos rapidamente apresentados ao príncipe Thor (Chris Hemsworth), um líder guerreiro, impulsivo e vaidoso. O que é uma preocupação para seu pai Odin (Anthony Hopkins), que percebe que seu filho preferido não possui os atributos necessários para precedê-lo no trono.


  Após a frustrada invasão do palácio feita pelos Gigantes de Gelo que tentavam roubar um artefato de poder, Thor é motivado por seu irmão Loki (Tom Hiddleston) a liderar um grupo de amigos guerreiros para confrontar o inimigo, desprezando as ordens de seu pai. A demonstração da arrogância de Thor resulta na maior pancadaria contra o exército dos Gigantes de Gelo , quebrando uma já tênue trégua entre os reinos. Aliás, essa sequência é para mim uma das melhores de todos os tempos. Por desobedecer seu pai Thor tem seus poderes revogados e é banido para Terra, onde é encontrado por um pequeno grupo de cientistas.

   Mas é aqui que o roteiro peca, pois fica sem profundidade. Não temos tempo de conhecer aquele grupo comandado pela doutora Jane Foster (Natalie Portman), o que faz os personagens ficarem meio deslocados e não permite que nos apeguemos a eles. Talvez por isso fica difícil engolir a transformação do herói em sua estada na Terra e o surgimento rápido de amor por Jane. Os diálogos também não ajudam muito e parecem 'amarradinhos' demais, chegando a incomodar. O mesmo acontece com o grupo de guerreiros amigos de Thor enquanto permanecem em Asgard e acompanham a traição e ascensão de Loki, o verdadeiro inimigo. Sobra pouco tempo para conhecê-los e por isso não existe espaço para dramatizações. Embora exista um momento emocionante: Quando Thor recebe seus poderes de volta empunhando o poderoso martelo Mjolnir.
  O duelo entre Thor e o Destruidor é bom e chega a entusiasmar mas podia ter sido bem melhor. Tudo acontece rápido demais e o final apoteótico não é tão impressionante como a primeira sequência de ação da película, que para mim, vale pelo o filme inteiro.
  No final, ficou a sensação de que faltou alguma coisa. Pareceu-me uma daquelas publicações de capa dura, encadernação e impressão luxuosas e arte impecável mas com um roteiro fraco. Não que devesse impressionar, ficou no nível do filmes já citados da Marvel Studios, mas não é o melhor. Valeu o ingresso e fica aqui a recomendação.
  A próxima aposta da Marvel é o filme Capitão América – O Primeiro Vingador, aguardado ansiosamente pelos fãs. Entra em circuito no dia 29 de julho aqui no Brasil.