quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Sci-fi com consciência

    Avatar é o filme do ano! Acabei de retornar do cinema e confesso que ainda estou sob o efeito das impressionantes imagens da película. Um verdadeiro primor de beleza e detalhamento gráfico de realismo astronômico. O projeto despendeu cerca de 500 milhões de dólares em 10 anos envoltos de mistério e de alarde midiático, em grande parte causado pela tal tecnologia que viria inovar o conceito dos filmes 3D (o equipamento para dar vida ao mundo concebido por Cameron não existia). Mas valeu à pena esperar. Sim, James Cameron revolucionou o cinema 3D! Em nenhum momento de seus quase 162 minutos de exibição me pareceu estar assistindo a uma animação, mas a um live action.
   Os personagens humanos estão perfeitamente inseridos em um ecossistema construido de tecnologia digital e com alto grau de realismo em todos os seus mínimos detalhes. Os Na’Vi, a raça alienígena nativa do hostil planeta Pandora, são apresentados como arquétipos de culturas indígenas de todas as partes da Terra - que conhecemos e com os quais acabamos nos identificando rapidamente - e tão detalhadamente ricos de minúcias gráficas que podemos perceber os poros da pele deles transpirando. O planeta é alvo da ganância e ignorância dos seres humanos que estão interessados na valiosa substância chamada unobtainium. A aldeia dos Na´Vi fica localizada exatamente sobre uma abundante reserva do precioso objeto de cobiça, mas todas as tentativas 'amigáveis' de levar os nativos a abandonar o local são fracassadas. Como última alternativa a empresa responsável pela ação envia avatares – seres humanos com mentes temporáriamente transferidas para corpos de Na´Vi - para infiltração e investigação da aldeia e seus habitantes a fim de encontrar pontos vulneráveis. Mas o agente infiltrado acaba se envolvendo com os nativos tornando-se defensor da causa deles.


    O roteiro não oferece surpresas, valendo-se de uma fonte da qual outras obras, cinematográficas ou não, também já beberam – qualquer semelhança com o prodigioso Dança com Lobos, de Kevin Costner, não é mera coincidência. Amiúde, mesmo sendo presumível, a história recontada não diminui a força do espetáculo. Outro aspecto que chama a atenção e enriquece o roteiro é o seu aspecto místico que alude à hipótese Gaia, levando inevitavelmente o apelo da preservação ambiental. As referências estão todas lá. Em certo ponto do filme (espero que isso não soe como spoiler) o herói se prostra diante de uma árvore que, acredita-se, sintetiza uma espécie de força que conserva e conecta a alma do planeta às almas de todos os seres que o habitam, e solicita a sua ajuda para o desfecho da crise que está chegando ao ápice. Nesse momento, ele confessa o pecado de seus antepassados que destruíram todo o verde de seu planeta natal e estão prestes a fazer o mesmo com aquele lugar. Nesse instante, a narrativa toma o aspecto de um oráculo, mais uma vez apontando para um futuro sombrio onde a louca aventura humana esgotou os recursos do seu planeta de origem.
   Discurso ecologicamente emblemático e conveniente nestes tempos em que os grandes líderes mundiais  se reuniram no COP 15 e para a decepção geral, não chegaram a um acordo plausível de comprometimento para a redução da emissão dos gases que provocam o efeito estufa (leia-se dentre outros, principalmente, os EUA). Ou seja, continuarão a liderar a lista dos países que mais exploram danosamente os recursos naturais do planeta parecendo não se importar muito com isso.

   Agora, resta-me aguardar a estréia do já bastante alardeado - aqui e lá fora – Moon, de Duncan Jones, e a biografia romanceada do revolucionário Charles Darwin, narrada no filme Creation, que espero ansiosamente entrarem circuito por aqui. Enquanto isso, passo o tempo com a química bem humorada dos nerds da telesérie The Big Bang Theory, cujo DVD da primeira temporada acabei de receber de presente. Uma breve digressão.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Resgatando o romantismo

  Petrópolis é a minha cidade. Meu lar. Está privilegiadamente localizada em meio a Serra dos Órgãos sendo, por isso mesmo, dotada de uma beleza natural incomparável. Além dos atrativos turísticos – a cidade é herança de um sonho do Imperador Dom Pedro II -, conta com uma programação cultural bem variada: cinema, teatro, espetáculos de dança e música, exposições artísticas, sem contar com a gastronomia diversificada. A fundação de cultura e turismo do município mantém um site a programação cultural realizada a cada mês, bem como informações de serviços para turistas.
  Fiz uma breve visita a esse site no final do mês passado, procurando confirmar a data e o horário da “Serenata Imperial” que tem lugar no icônico Palácio de Cristal, na última quinta-feira de cada mês.

  Na quinta-feira, cheguei ao Palácio de Cristal pouco após as 20h; a serenata já estava começando. A banda era formada por seresteiros acompanhados pelo som dos violeiros, do cavaquinho, dos instrumentos de sopro e do pandeiro. O conjunto todo era conduzido por um animado coordenador que fazia também a introdução de cada composição que ia ser executada. No grupo composto principalmente por pessoas da meia-idade para cima, havia pelo menos quatros jovens que chamavam a atenção, e me despertaram a satisfação de ver que a juventude também se interessava pela boa música e demonstrava esse interesse no engajamento de um projeto tão especial. Projeto esse responsável por resgatar características tão fugidias da geração atual: o lirismo, a pureza da paixão proseada ou cantada em versos ora repletos de alegria, ora profundos na melancolia do amor não correspondido. O público estava representado principalmente pela terceira idade – uma boa parte eram turistas de Minas Gerais. A bela apresentação elevou-me acima dos problemas rotineiros, transferiu-me para algures e inundou-me de amor e paixão pela vida, trazendo à lume doces recordações que, ao serem revividas através das cantigas que enchiam o salão, recriavam as mesmas impressões da época.

  Lembrei-me, ainda com certo frescor, de ter participado do “Petrópolis em Serenata”. Um bairro vizinho foi visitado pelo evento e eu não pude deixar de ir, ainda mais convidado por um saudoso cliente e amigo. Na época, eu editava os convites. Meu cliente era um dos responsáveis pela realização do programa – que acontece até hoje –, privilegiando simultaneamente duas localidades da cidade por mês.

   Naquela noite, poetas, cantores, violeiros e o povo convidado, estavam reunidos no final da rua a partir da qual iniciaram as cantigas embaladas ao som dos instrumentos. Eu e minha esposa acompanhávamos o grupo que embalava canções dos compositores e intérpretes de saudosos anos que cobriam décadas do mais profundo lirismo. Tempo em que o romantismo era exalado nas ruas, diante das sacadas e janelas que se abriam ao som dos trovadores; no interior de bares e nas esquinas, em rebuscadas declarações de amor cheias de poesia e beleza. Compositores e intérpretes como Ari Barroso, Orestes Barbosa, Noel Rosa, Maisa, Vinícius de Moraes e muitos outros, eram homenageados. Enquanto soavam suas canções, entoadas pelos músicos numa passeata que crescia, descíamos a rua que terminava e dobrávamos a esquina para tomar um outro caminho, seguindo o itinerário pré-estabelecido. Aludindo aos poetas apaixonados, que se declaravam sob a sacada da janela de sua amada banhados pela luz do luar, frequentemente parávamos diante das casas, em canto, ao som dos violeiros. Atraídos para as sacadas e portões, os moradores se deliciavam com a melodia sentimental que enchia de enlevo aquela noite especial. Quando prosseguíamos nosso caminho, alguns desses moradores deixavam suas casas para seguir conosco. Ao final, quando terminamos de percorrer a rua derradeira, permanecemos na cantiga e a pedidos, outra e outra composição era executada, até que chegou a canção de despedida.

  Aquela, como essa noite de quinta-feira, foi para mim memorável e revigorante.

sábado, 31 de outubro de 2009

Uma menção da razão

  De vez em quando me pergunto quais teriam sido os pensamentos de meus antepassados quando tiveram a minha idade. Que desafios encontraram? Que dilemas? Qual era a concepção que eles tinham do mundo? O que os movia, além das responsabilidades com a família? No caso da vida dos meus pais, ainda posso investigar com perguntas feitas diretamente a eles - meu pai é um contador de “casos”. Mas quando penso em meus avôs e na minha descendência, tudo fica vago demais. Sei que parte do que foram está impresso no meu código genético. Uma herança hereditária. Mas suas experiências e memórias se perderam. Existem alguns raros registros fotográficos que não dizem muita coisa. Momentos congelados no tempo. Expressões que escondem um universo único de experiências e impressões. Correspondiam ao espírito da época, ou alguns estariam à frente do seu tempo? Que tipo de mensagem eles teriam deixado para as futuras gerações se seus pensamentos tivessem sido registrados?

  Há alguns meses atrás, minha esposa me perguntou por que escrevo para este blog. Tentei responder a sua pergunta argumentando que escrever sobre os assuntos que gosto é uma maneira de dividir com os outros um pouco daquilo que descubro sobre o mundo, e publicar no blog possibilita essa comunicação. Também é um meio de manter um registro temporal da minha própria cosmovisão que vai se transformando com o passar dos anos. Além disso, tenho mesmo o hábito de escrever compulsivamente sobre o que vivo e sinto.

  Faço um registro. Do meu tempo, das minhas impressões e das de outros. Para meu filho, para futuros netos, para a posteridade.

Talvez eu não queira passar pelo mundo sem deixar uma marca, um registro de quem sou. Considero a vida importante demais para permitir que seja apenas um lampejo e um ronco de trovão. Um dia, partiremos e levaremos com nossa memória tudo o que somos. Restarão algumas lembranças que se apagarão com o tempo, como as chamas de lampiões que se extinguem quando finda o combustível.

  Em Blade Runner – O Caçador de Androides, Hutger Hauer interpreta um androide chamado Roy. Ele é o líder dos replicantes (outro nome dado aos androides que são tão perfeitos que parecem humanos). Eles se rebelaram, sendo agora foragidos caçados pelo decadente blade runner Rick Deckard, interpretado por Harrison Ford, contratado para executá-los. Os replicantes foram projetados para expirar após um tempo de vida de 4 anos, uma medida da Corporação Tyrell, a fim de não desenvolverem emoções. O problema é que Roy volta à Terra buscando mais vida e o seu tempo está se esgotando.

  O momento mais tocante da película está na atitude de Roy ao poupar a vida de seu algoz, Deckard, que estava à sua mercê. Salvo, sob a chuva, o confuso e indefeso Deckard presencia a morte de Roy que recita um comovente solilóquio antes de morrer: “Eu vi coisas que vocês não acreditariam. Entrei em naves de ataque em chamas perto do ombro de Orion. Eu assisti à dança dos raios C no portão de Tannhauser. Agora todos esses momentos ficarão perdidos no tempo, como lágrimas na chuva. Hora de morrer.”


  A vida de Roy foi breve, mas pelo que podemos deduzir de suas palavras, foi uma vida intensa. Seu erro foi não dividi-la com ninguém. Ele eliminou as pessoas que poderiam ajuda-lo a encontrar um sentido para sua existência. Eldon Tyrell, seu criador, tentou socorrê-lo. Para Tyrell, não importava a quantidade de tempo de vida neste mundo, mas a qualidade da vida que se tem. No final, Roy encontrou sua redenção. Salvou Deckard e preservou nele aquilo que lhe era mais importante. Roy não pôde receber mais vida, mas podia preservá-la no outro.

  Não me importa se serei lido por muitos ou poucos - se é que serei lido. Importa-me a expressão na melhor forma que conheço, pela qual descubro e redescubro este e outros mundos: A palavra escrita.
Se consigo transmitir algo através das linhas que escrevo, espero que seja a expressão de um mundo maravilhoso, repleto de beleza e mistérios para os quais não temos respostas. Somos incitados a buscar mesmo sabendo que as respostas nunca serão plenas, e consequentemente nunca estaremos completamente satisfeitos. Mas ao compartilhar o que já alcançamos encontramos satisfação. Então, a arte e a poesia não estarão somente nos olhos de quem vê, mas naquilo que conseguimos fazer outros enxergarem.

domingo, 25 de outubro de 2009

O perigo que vem de cima

  Há alguns dias atrás a Universidade do Havaí fez um anúncio importante. Novos cálculos diminuíram as chances do asteróide Apophis se chocar com a Terra – 1 chance em 300 mil – e a data do possível encontro mudou para o ano 2068.


  O Apophis tem cerca de 250 metros e foi descoberto em 2004. Naquela época, os cálculos de sua órbita demonstraram 1 chance em 37 de ele atingir a Terra. A data fora estabelecida para o dia 13 de abril de 2029. Nesse dia, de fato ele passará a cerca de 30 mil km da superfície terrestre (o que é muito perto, considerando que os satélites de comunicação de órbita geoestacionários ficam a 36 mil km de altitude). Uma análise mais apurada foi feita algum tempo depois e as chances de impacto mudaram para 1 em 45 mil, dessa vez em 2036.

  Após revisões, a nova estatística anunciada que considera o possível desastre para 2068 também diminuiu as chances para 1 em 300 mil. Mas ela não é conclusiva, afinal de contas qualquer perturbação gravitacional na órbita do asteróide poderia contribuir para aumentar ou diminuir o risco de impacto.

  Somente nas últimas duas décadas os especialistas começaram a demonstrar maior preocupação com essas rochas à deriva no espaço. Apesar de a caça a asteróides ter sido uma atividade popular no século XIX – no final daquele século havia cerca de mil conhecidos -, no início do século XX poucos astrônomos queriam se dedicar à descoberta desses planetóides rochosos e estavam mais interessados em analisar o espaço profundo, repleto de novas galáxias e estruturas desconcertantes reveladas pelos avanços da astrofísica. Mesmo a descoberta dos asteróides do século anterior não obedeceu a um registro sistemático, o que levou os astrônomos que retomaram esse trabalho a rever as descobertas dos pioneiros, muitas vezes percebendo que uma descoberta recente na realidade era um objeto que já tinha sido localizado outrora.

  Foi na década de 1950 que o primeiro estudo sério sobre impactos catastróficos começou a ser desenvolvido pelo então geólogo Eugene Shoemaker. Naquela época a cratera do Meteoro, no Arizona, era considerada uma depressão causada por uma ação natural de explosões de vapor subterrâneo – nunca existiu tal coisa, mas era uma teoria aceita na época. Shoemacker acreditava que a cratera fora formada pelo impacto de um objeto do espaço. Essa idéia não era original, tendo sido considerada por outros antes dele. Mas junto com outros três colegas, Shoemacker começou uma pesquisa sobre o sistema solar interno utilizando o observatório de Palomar, na Califórnia, em busca de asteróides com trajetórias que pudessem cruzar com a órbita da Terra.


  No início da década de 1970, outro geólogo, Walter Alvarez, desenvolvia um trabalho de campo num desfiladeiro na cidade de Gubbio, na região montanhosa da Úmbria, quando analisou uma fina camada de argila com 6 centímetros de espessura que separava as camadas geológicas do Cretácio e do Terciário. Essa é a marca da época da extinção dos dinossauros, 65 milhões de anos atrás. O desaparecimento brusco dos dinossauros até então era um mistério aberto a teorias. O que chamou a atenção de Alvarez era o que poderia haver naquela fina camada de argila vermelha que pudesse lançar mais luz sobre a questão. Com a cooperação de um colega de seu pai, que trabalhava no Laboratório Lawrence Berkely, na Califórnia, ele obteve um resultado preciso da composição da amostra daquela argila, e ficaram impressionados com o que descobriram. A quantidade de irídio na amostra – mil vezes mais abundante no espaço do que na crosta terrestre - era mais de trezentas vezes além do nível normal. E mais: amostras da camada de argila do mesmo período provenientes de outros lugares - Dinamarca, Espanha, França, Nova Zelândia, Antártida – revelaram resultados semelhantes e com quantidades até mais abundantes de irídio.

  Finalmente, eles concluíram que somente um evento catastrófico causado pelo impacto de um corpo celeste poderia ter espalhado poeira com irídio naquelas proporções por todo o planeta. O cataclismo ocorrido explicaria a razão do desaparecimento repentino dos dinossauros.

  A idéia não foi aceita pela comunidade científica logo de início e era vista com desconfiança. O catastrofismo não era uma teoria corrente no início da década de 1980. Mesmo o famoso paleontólogo Stephen Jay Gould, duvidou. ‘Por que um objeto com apenas uns 10 quilômetros de largura causaria tanta destruição num planeta de quase 12 mil quilômetros?’, ele confessou mais tarde.

  Faltava aos três cientistas apenas uma coisa para comprovar sua teoria: encontrar o local de impacto. Algumas décadas antes, uma empresa petrolífera havia descoberto uma formação com 193 quilômetros de largura e 48 quilômetros de profundidade, em formato de anel, na península do Yucatán, em Chicxulub, a cerca de 950 quilômetros de Nova Orleans. Os geólogos da empresa pensaram que era resultado de ação vulcânica. Com a posse desses dados, em 1990, um dos pesquisadores que contribuía com o trabalho de Alvarez para a detecção do possível local de impacto rumou para a região e afirmou que aquela era a cratera que eles procuravam. Em 1991 foi comprovado, sem margem para dúvidas, que ele estava certo.

  Mas a prova de que pequenos objetos do espaço podem causar devastação global ocorreu mesmo em julho de 1994, quando os fragmentos do cometa Shoemacker-Levy 9 colidiram com o planeta Júpiter. O cometa foi descoberto por Eugene Shoemacker, sua esposa, Carolyn, e David Levy, parte do mesmo grupo que despertou a atenção da autoridade científica para o perigo de um impacto. A forte gravidade de Júpiter desintegrou o cometa - que fora capturado para o interior do sistema solar após ter sua órbita desequilibrada por algum outro objeto celeste - em 23 pedaços que seguiram em direção ao planeta.

  Júpiter é 11 vezes maior do que a Terra e a sua massa é trezentas vezes superior. O maior planeta do sistema solar é uma gigantesca bola de gás e embora sua superfície não seja sólida, talvez sua região central seja. Os astrônomos achavam que o impacto seria um fiasco, como publicado num artigo da revista Nature, na época. No dia 16 de julho, ocorreu a primeira colisão. Sua explosão criou uma bola de fogo gigantesca levantando uma coluna de detritos com mais de 3 mil quilômetros de altitude. Ao retornar ao planeta, os detritos criaram uma mancha negra com o tamanho equivalente a um terço do diâmetro da Terra. Os impactos que ocorreram nos dias seguintes atingiram a superfície repetindo o mesmo padrão. O Núcleo G, o maior deles – mais ou menos do tamanho de uma montanha pequena - atingiu o planeta liberando a incrível força de cerca de 6 milhões de megatons o que é 75 vezes superior a todas as armas nucleares existentes. Tudo isso foi registrado ‘ao vivo’ pelo telescópio espacial Hubble e pela sonda espacial Galileu, que viajava em direção a Júpiter durante o acontecimento.


  O espetáculo bastou para calar os críticos da teoria de Alvarez e conscientizou a comunidade científica de que o mesmo poderia, no passado, ter acontecido no planeta Terra. E ainda pode. Verbas foram liberadas para engrossar o caldo dos programas de pesquisa que descobrem e rastreiam asteróides e cometas, como a organização de Levantamento de Proteção Espacial (Spaceguard Survey) que conta com a colaboração de vários países.

  A massa total dos milhões de asteróides entre Marte e Júpiter é de aproximadamente metade da massa da Lua. Existem três asteróides realmente ‘grandes’, Ceres, Pallas e Vesta, com diâmetros de 913, 580 e 540 quilômetros de diâmetro, respectivamente. Cerca de uma dúzia de bólidos com mais de 200 quilômetros. Mais de 10 mil com mais de 100 quilômetros. Os menores são bem mais numerosos, com cerca de 750 mil com diâmetros acima de um quilômetro, e mais ou menos uns 28 milhões maiores que um campo de futebol que são especialmente difíceis de detectar.

  Eventos na escala do que causou a extinção dos dinossauros ou do impacto ocorrido em Júpiter são raríssimos, mas inevitáveis. A estimativa do estudo da Spaceguard Survey, em 1992, é que de 20% a 40% dos objetos celestes hoje considerados perigosos (com mais de um quilômetro de diâmetro) poderiam se chocar contra nosso planeta em algum tempo futuro.

  Como nos filmes de ficção "Impacto Profundo" e "Armageddon", resta saber o que poderemos fazer no caso da confirmação de impacto com um objeto dessa magnitude. Existem várias propostas de interceptação, se a descoberta for feita com anos de antecedência, como no caso do primeiro filme. Mas isso é assunto para outro post.

  No mês de julho deste ano o planeta júpiter foi novamente flagrado no exato momento em que era atingido por um asteróide ou cometa. Pelo menos para o gigante gasoso esses eventos não parecem ser tão incomuns.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

De janelas abertas para o céu


  Semana passada estava numa loja carregando o meu celular quando tive minha atenção desviada para um objeto meio incomum. Do outro lado da rua estava exposto um telescópio refletor. Pertencia a uma loja de ferragens que além de vender materiais de construção e outras coisas também parecia funcionar como um bazar.

  Uma rápida olhadela bastou para avaliar a precariedade do material: lentes mofadas, cheias de poeira e provavelmente desalinhadas, tubo internamente sujo e com sinais de ferrugem denunciavam que o equipamento deve ter ficado guardado em algum porão escuro por décadas. A única ocular que existia não estava em melhores condições. Acho que apenas o tripé de madeira se encontrava em estado mais favorável. O telescópio estava ajustado para mirar uma antena que distava alguns quilômetros e imaginei que o proprietário da loja tivesse deixado assim para impressionar um possível comprador. O conjunto gerava uma imagem meio borrada, mas tudo bem. Telescópios refletores não são ideais para observação de paisagem e para uso com luz do dia pois são ferramentas projetadas para perscrutar o céu noturno. Conversei com o proprietário sem noção que a permanência daquele telescópio na calçada à beira de uma estrada, sob o tempo e sem uma única proteção somente ampliaria os problemas que já existiam no equipamento. Acho que ele não me deu muito ouvidos. De qualquer forma, tive curiosidade de saber o preço. E essa foi a única coisa que me impressionou.

  Sai da loja relembrando os tempos em que subia no telhado da casa de meus pais com um telescópio refrator de 60 mm. Naquela época, os postes de iluminação pública se localizavam a cerca de 150 metros de distância da nossa casa e não haviam muitas residências nas proximidades. A baixa iluminação dos arredores proporcionava perfeita condição para contemplar o céu estrelado. Com uma carta estelar em mãos e movido por muita curiosidade, mirava o meu equipamento para planetas, aglomerados de estrelas e galáxias. Claro que meu telescópio era bem fraquinho e muita coisa se apresentava como disquinhos de luz ou manchinhas indefiníveis contra a escuridão, mas eu vibrava mesmo assim. Passava horas no telhado em pé, no frio muitas vezes, e me admirava continuamente com as descobertas de cada nova busca.

  Lembro que tinha um filtro solar para observar o Sol com segurança. Dava para ver pequenos pontinhos escuros em sua superfície, as famosas manchas solares (sua concentração muda de acordo com os períodos de alta ou baixa atividade do ciclo solar que é de 11 anos). Nunca tive a sorte de ver bolhas ou granulações, fáculas ao redor das manchas ou uma explosão solar. Na verdade, acho que não conseguiria ver esses fenômenos com aquele equipamento mesmo se as condições fossem favoráveis. Mas o sabor da descoberta de novos mundos, por mais obtusos que se revelassem enchiam meu ser de êxtase.

  Hoje não moro em um bom local para observar o céu. Locais ermos se encontram relativamente longe da minha casa, mas o desejo de adquirir um novo telescópio já me acompanha há anos. A minha sempre presente paixão pelo cosmo e a possibilidade de começar a acampar de vez em quando para fugir da rotina tem servido de impulso para finalmente ceder a esse desejo. No passado, pretendia fazer astronomia amadora (esse é um campo da ciência que tem feito muito com contribuições importantíssimas). Quem sabe, não seja um bom começo?

  Estou pesquisando preços, verificando modelos... Daqui a algum tempo devo voltar a falar sobre o assunto, mas da próxima vez espero, com o deslumbramento de estar descortinando os mistérios do céu noturno mais uma vez.

domingo, 16 de agosto de 2009

(hibi no neiro) O som de todos os dias

  Assisti o clipe da banda japonesa SOUR produzida para o hit Hibi no Neiro, faixa do EP Water Flavor. Para produzi-lo, a banda contou com a colaboração de seu fã-clube. O clipe foi gravado por webcams de participantes de diferentes lugares do globo. A edição final gerou um sincronismo excelente, que motivou diversos comentários na rede. Após as postagens de longos textos do mês passado, nada melhor do que um pouco de frescor de vídeos como esse.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Eu continuo participando!

  A campanha 'Xixi no banho'- que comentei aqui- entrou em sua segunda fase com um filme que mantém o mesmo conceito lúdico, leve e divertido da anterior. A ação continua lembrando a importância desse hábito saudável e, de maneira bem democrática, apela para que toda criatura que faz xixi participe.

Vívidos 50 anos

  Fiquei sem palavras para descrever este interessante comercial em comemoração dos 50 anos da câmera Olympus Pen. O filme, realizado em stop motion, é simplesmente cativante.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Com a cabeça na lua

   Nas noites de Lua cheia, mesmo após os dias mais agitados gosto de ficar admirando o redondo astro no céu, muitas vezes do telhado de casa. A luz do luar cria um clima ideal para a meditação e induz em mim uma profunda reflexão da vida como um todo. Para as almas românticas é o despertar da inspiração e das explosões de amor.

  A primeira vez que mirei a Lua através das lentes de um telescópio foi mágico. As lágrimas correram dos meus olhos. Estava minguante. Era como se repentinamente o tempo tivesse estacionado por um instante, enquanto aquele imenso disco semi-iluminado seguia o seu curso silencioso, sem dar a mínima para mim. Eu podia ver as sombras dos vales e montanhas projetadas pela luz solar que banhava parte de sua superfície que empalidecia de estonteante beleza. Apesar de já ter visto dezenas de fotos das mais diversas distâncias do astro, nada se comparava àquela singular experiência. Era como se uma janela tivesse se aberto para o um horizonte de excelência e harmonia. Enquanto um misto de maravilha e contentamento tomava conta do meu ser, eu capturava aquele momento de transcendência que guardaria como uma das visões mais espetaculares que tivera chance de vivenciar.

  Desde tempos imemoriais, essa esfera selenita incita a imaginação da mente humana com fascínio e terror. Na ausência de explicações para o espetáculo noturno, os povos primitivos recorreram às historias extraordinárias gerando lendas e deuses que facilitavam a compreensão de tudo. Os deuses tinham poderes sobrenaturais e governavam os fenômenos da natureza, sendo capazes de alterar o seu equilíbrio. Os astros eram considerados entidades que governavam o dia e a noite. A Lua era a deusa ou deus que envolvia de mistérios o céu noturno. Há mais de 3.000 anos atrás, os Assírios e os povos do Sul da Arábia comemoravam o décimo quinto dia do terceiro mês de seus calendários primitivos – o dia da lua cheia no calendário lunar - como um dia especial ao deus-lua. Prestavam cultos e faziam oferendas. Já os egípcios, consideravam a Lua um ponto de parada da alma em sua jornada para o Céu.

   Os eclipses que ocorrem periodicamente deram lugar a todo o tipo de superstições e mitos que estavam normalmente associados a maus presságios. Quando o Sol e a Lua eram eclipsados, nossos antepassados interpretavam o fenômeno como se os astros tivessem sido abalados por forças opostas. A mente primitiva imaginava monstros malignos, dragões e serpentes que procuravam usurpar o trono dos deuses. Muitas culturas desenvolveram rituais que representavam o embate das forças do bem e do mal na expectativa de contribuir para a vitória de seus deuses e o retorno da ordem natural das coisas. Em alguns casos organizavam danças que eram executadas com grande algazarra, a fim de espantar o monstro que tentava devorar o astro. Na china, era hábito lançar flechas em direção aos eclipses e bater tambores com o mesmo fim. Chung Wang, quarto imperador da dinastia dos Hsai, condenou à morte os astrônomos Hsi e Ho porque não previram o eclipse do Sol de 22 de outubro de 2.137 a.C. – tamanha a idéia de importância desses fenômenos para o bem estar do império.

  Conta-se que Cristovão Colombo se utilizou das informações do livro do astrônomo judeu Abraham Ben Samuel para conseguir dos indígenas alimentos e água para sua viagem de retorno à Europa. Sabendo antecipadamente que um eclipse lunar ocorreria naquela noite ele se dirigiu aos nativos ameaçando apagar a Lua. Quando começou o eclipse, os índios viram que ele não estava brincando e começaram o trabalho.

  Nem sempre a Lua causava reverência e espanto. O sonho de viajar até o disco prateado já transitava há muito, nas mentes devaneadoras e aventureiras. A primeira descrição de uma jornada até a Lua data do século II. Nela, Luciano Samósata conta como uma violenta tempestade oceânica arremessa um navio tripulado à superfície lunar. Essa narrativa encontra-se no livro Histórias Verdadeiras. Obviamente, esse conto não tem nada de realista, e parece ter sido a intenção do autor fazer uma crítica a sociedade da época - nossos heróis se vêem em meio a um conflito entre os habitantes da Lua e os habitantes do Sol, conseguindo retornar ao nosso planeta apenas após uma trégua entre eles.

  Uma abordagem um pouco mais científica foi feita por Johannes Kepler (1571-1630), em 1593, quando se perguntava como os fenômenos celestes seriam percebidos por um observador que estivesse na superfície da Lua. Defensor da concepção heliocêntrica, que postulava a Terra e os demais planetas girando em torno do sol - simpatizantes desse conceito eram perseguidos pelos geocentristas - resolveu desenvolver um conto de ficção para disfarçar as idéias que exporia no livro. Dessa forma, imaginou que elas pudessem ser mais aceitáveis aos aristotélicos. Imbuído dessas considerações, ele escreveu “Sonnium”. O livro narra a aventura de Duracotos que, após ser expulso de casa por sua mãe, consegue um trabalho somo assistente do astrônomo dinamarquês Tycho-Brahe (1546-1601) onde apreende o conhecimento dos corpos celestes. Alguns anos depois, Duracotus volta para casa e conta tudo para sua genitora. Esta, por sua vez, conta-lhe que já sabia daquilo tudo, graças às revelações de uma entidade benéfica que ela chamava de “o demônio de Lavaria”. Por meio desse ente, eles são transportados para a Lua onde são instruídos sobre a astronomia e a biologia lunares. Através dessa fantasia, Kepler divulgava suas idéias heliocêntricas tentando não gerar polêmica.

  Sua prudência porém, não adiantou muito e após distribuir seu conto entre um pequeno número de pessoas influentes, um incidente lhe impediu de publicar o livro. A forte personalidade de sua mãe, Catarina Kepler, provocou diversas acusações caluniosas por parte dos vizinhos. Em 1620, ela se tornou réu do tribunal da inquisição acusada de praticar magia negra – em parte porque interpretaram seu livreto literalmente. Kepler a defende e, depois de 2 anos ela é libertada. Mas ele ficou conhecido como filho de feiticeira até a sua morte.

   Mas foi apenas entre 1865 e 1870, que a publicação de dois livros intitulados “Da Terra à Lua” e “Ao Redor da Lua” aproximaria a ficção de conquistar o nosso satelite à realidade. O autor era Júlio Verne que, com vários ingredientes, fazia as aventuras narradas em seus livros cientificamente palatáveis, descrevendo e antevendo maravilhas tecnológicas que surgiriam no século seguinte. Vários detalhes envolvidos na empreitada de suas estórias previu com riqueza de detalhes os passos que daria, um século mais tarde, o programa Apollo, da NASA (Agência Espacial Norte Americana).

  O sonho de pisar na Lua não era mais uma arroubo de fantasia e misticismo, mas uma possibilidade dentro dos limites da ciência e do conhecimento humano. Um sonho realizável, bastando apenas o desejo de alcançá-lo.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Dinossauros, gorilas e Miss Ann Darrow

  No final da semana passada fui a um sebo que reabriu há alguns meses atrás aqui na cidade, à procura do romance “Contato” de Carl Sagan. Aproveitei o momento para dar um terno abraço na saudosa proprietária do estabelecimento, uma querida senhora que desde meus tempos de adolescência guardava os livros e revistas que me interessavam e que não podia pagar no momento – tinha que juntar o dinheiro do lanche para comprar. Quando voltava para buscá-los, ela ainda me dava um desconto no preço.

   Não encontrei o livro que procurava, mas acabei adquirindo outro sobre um assunto que me apaixona desde criança: dinossauros. Escrito por Paul M. Barrett, paleontólogo do Museu de Historia Natural de Londres, o livro “Dinossauros - Uma Historia Natural”, publicado pela Martins Fontes, foi um verdadeiro achado – bem como o valor que paguei por ele. Além de conter informações das descobertas mais recentes da paleontologia, a obra é ricamente ilustrada e deixa qualquer interessado ou mesmo quem não dá a mínima para os bichões, boquiaberto. O autor também foi consultor da série “Parque Pré-Histórico”, documentário produzido pela BBC de Londres - DVD que ganhei de presente de aniversário este ano -, que foi transmitida em partes pelo programa “Fantástico”, da Rede Globo.

   Eu não saberia precisar quando e como surgiu o meu entusiasmo por essas maravilhosas criaturas extintas. O certo, é que desde criança faço parte da lista dos deslumbrados por esses animais. Acho que um dos primeiros contatos com essas criaturas fora através de um livro chamado “Monstros da Pré-História”, da Editora Abril, que era na verdade, uma compilação de uma obra ainda maior intitulada “Os Bichos”, lançada em quatro volumes no final da década de 1970. Tive o prazer de ter essa enciclopédia na estante, quando era mais jovem - gastei metade de um mês de salário do meu primeiro emprego para obtê-la. A obra tratava da vida animal e era cheia de ilustrações belíssimas feitas em aquarela. No quarto volume havia uma seção sobre os animais pré-históricos. Naquela época, os dinossauros ainda eram representados em posição ereta e com a cauda rente ao chão, como suporte, o que mais tarde, durante da década de 1980 descobriu-se estar anatomicamente errado. A cauda dessas criaturas era sustentada reta atrás do corpo, atuando como uma espécie de contrapeso. Apesar de não serem exatas, as ilustrações correspondiam à interpretação que os especialistas davam aos fósseis na época. Foi através de livros como esse que o portal das eras passadas se abriu para mim, resultando no despontar do meu interesse científico. Pude contemplar e até sonhar com o mundo dos dinossauros – sonhei literalmente com um braquiossauro pastando nas proximidades da minha casa.

  Embora tenha obtido uma boa dose de conhecimento sobre como era a vida no nosso planeta há milhões de anos atrás e aprendido, entre outras coisas, o significado da palavra “extinção”, a leitura que verdadeiramente definiu meu fascínio pelos dinossauros ocorreu algum tempo depois. Foi um livro de Edgar Wallace que levou minha imaginação até locais ainda não descobertos no globo onde teriam sobrevivido remanescentes desses répteis colossais. O livro, na verdade, surgiu do argumento para cinema que o autor deixou incompleto quando morreu em 1932, enquanto se dirigia para Hollywood: King Kong. O texto se transformou no filme dirigido por Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack que tirou o estúdio RKO do buraco – a película foi produzida durante a Grande Depressão, período obscuro da economia estadunidense. Seu lançamento, em 1933, foi um estrondoso sucesso de bilheteria e a história do gorila gigante que se apaixona por uma jovem e linda mulher ganhou o mundo desde então, tornando-se um clássico que atraiu e influenciou gerações. Gerando uma seqüência no mesmo ano (O filho de Kong), e dois remakes: uma produção meio erotizada de 1976 e outra espetacular, mas exagerada de 2005, dirigida por Peter Jackson.

   De fato, o livro não apenas me apresentou um mundo repleto de monstros – uma ilha, na verdade – mas foi também o primeiro livro que li do começo ao fim. Um feito grandioso para mim na época, embora não lembre quantos anos eu tinha. Posso dizer que, após aquela leitura peguei gosto pela coisa e nunca mais parei de ler. Naquela narrativa repleta de aventura, perigos e romance, recheada de criaturas gigantescas e bizarras, eu encontrava os ingredientes ideais para aflorar ainda mais a já fervilhante paixão pelos dinossauros. Embora fossem os coadjuvantes, eles eram tão espetaculares quanto o gorilão apaixonado - uma encenação de “a bela e a fera” em proporções titânicas. Muitas outras coisas me marcaram naquela leitura além dos dinossauros e de Kong: o Empire State Building, o arranha-céu onde Kong trava sua derradeira batalha com os aviões que o alvejam (seqüência imortalizada que se tornou um ícone pop); Nova York, a cidade que nunca dorme; e a belíssima Ann.

  Ann Darrow foi a primeira personagem feminina que me encantou e mexeu com a minha imaginação. Ainda me lembro da passagem, logo nas primeiras páginas, onde o incansável diretor de cinema Carl Denham deixa o cargueiro Venture em busca do rosto que viria a interpretar e dar vida à protagonista de seu filme. Ele segue convicto pelas ruas de Nova York, tentando descobrir nos rostos das mulheres que caminhavam pelas calçadas ou sentadas nos bancos das praças, a expressão ideal. Então, finalmente, num desses acontecimentos fortuitos, ele se depara com Miss Darrow.

  Tenho que admitir que Ann Darrow fora, para a minha mente adolescente e romântica, o estereótipo de mulher ideal. Assim como Denham se lançara em busca do rosto perfeito para o seu filme, fora plantado em mim o conceito da busca de uma companheira perfeita – uma idéia meio antiquada e platônica para a minha idade na época, eu confesso.

  Mas, num certo sentido, diferentemente dos dinossauros que hoje existem somente na forma de fósseis ou na minha imaginação, Ann é bem real. E da mesma maneira como o filme de Carl Denham não poderia existir sem Miss Darrow, a parte mais substancial do meu ser não poderia subsistir sem Ann.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Vida, maravilhosa vida!


  Achei genial o filme ‘O curioso caso de Benjamin Button’, dirigido por David Fincher. A história é baseada num conto escrito em 1922, por F. Scott Fitzgerald (1896-1940), sobre um sujeito "nascido em circunstâncias incomuns". Benjamin nasce velho, em estado degenerativo com catarata e artrite, num quadro médico próximo da morte. O recém-nascido é abandonado pelo desafortunado pai, ironicamente, na escadaria de um asilo, onde é encontrado e adotado por uma funcionária do lugar. Contrariando a expectativa de todos, a criança se recupera “milagrosamente” e convive quase despercebido entre os outros anciãos que vivem no asilo. Benjamin passa os primeiros anos da sua vida assistindo aos outros idosos como ele indo e vindo, enquanto se torna mais jovem e vigoroso a cada ano que passa, na contra mão do ciclo da vida. Ele perfaz uma história ao contrário no tempo, rejuvenescendo a cada aniversário, até se tornar novamente um bebê.

  Curiosamente, o que mais me chamou a atenção no filme não foi esse fato inusitado, nem os notáveis efeitos visuais, a maquiagem e a direção de arte, que lhe renderam 3 merecidos oscars - sem contar as brilhantes interpretações de Brad Pitt e Cate Blanchett. O que me encantou foi a narrativa do pitoresco personagem, registrada por ele mesmo num diário que é lido durante o filme. Através das memórias ali contidas sua jornada se descortina diante de nós. Tudo o que Benjamim nos conta, excluindo sua estranha doença – se é que podemos chamar assim – são acontecimentos corriqueiros de uma vida que poderia ser a minha ou a sua. Claro que o filme é poético e romanesco, e penso que a nossa vida deveria mesmo ser mais carregada de poesia e romance. Com efeito, o romance bem amarrado da narrativa gera certa expectativa de como tudo vai terminar devido o caso fora do comum de Benjamim. Na maior parte do tempo, porém, ele vê a vida e as pessoas passando diante de si sem maiores surpresas. O que torna sua narrativa tão especial é a forma como ele conta os acontecimentos - como a entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial - de uma perspectiva toda sua. Nesse aspecto, as pessoas que passam por sua vida se tornam curiosos coadjuvantes nas suas descrições; como o inesquecível sujeito que não perde uma oportunidade para contar como foi atingido 7 vezes por um raio. Mérito do roteirista Eric Roth, que assinou também o roteiro de Forrest Gump, outro famoso contador de histórias.

  Ao terminar de assistir a película, não pude deixar de refletir sobre como a nossa existência é de fato especial. Apesar de cada pessoa ser mais um no meio de uma população de quase 7 bilhões de habitantes espalhados pelo globo, de uma perspectiva individual nossa existência é exclusiva. Cada um de nós faz sua própria jornada. Acompanhamos o ciclo da vida com as mesmas necessidades, enfrentado os mesmos problemas e buscando mais ou menos as mesmas coisas. Não importa sob quais circunstâncias nascemos, “Vamos todos para a mesma direção. Apenas seguimos caminhos diferentes para chegar lá” – diz a mãe de Benjamim, em certo momento do filme. Mas ainda assim possuímos algo que nos difere uns dos outros, nossa identidade. O que nos confere uma história interna e pessoal desenvolvida a partir da forma como percebemos o mundo. A vida, contudo, parece indiferente à nossa percepção e mesmo contra todas as possibilidades continua a sua trajetória. Nossa existência, como a de Benjamim, é um milagre e cada novo dia de vida deve ser considerado uma benção, não importa a idade.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

O complô


  Tenho um amigo muito especial, mas dono de uma ingenuidade extrema. Ele parece uma pessoa fácil de impressionar e que normalmente acredita em coisas meio incomuns, mesmo quando são enunciadas de formas pouco convincentes. Ele raramente questiona a fonte de uma informação por mais incoerente que ela seja. Há alguns anos atrás, veio com um disquete de computador que, segundo disseram a ele, continha um documento de texto com uma articulação judaica para a conquista do mundo. Uau!!! De fato, quando abri o arquivo, tratava-se de uma cópia eletrônica dos Protocolos dos Sábios de Sião.

  Os Protocolos são uma conspiração atribuída a sábios judeus que contam os detalhes de um plano para dominar o mundo. Na verdade, esse documento é uma falácia forjada pelo serviço secreto russo, em 1898, para convencer o tzar Nicolau II de que o movimento revolucionário que ameaçava a estabilidade política era parte de um plano judaico. A farsa foi encomendada a um inescrupuloso e ganancioso exilado russo que vivia na França, Mathieu Golovinski, que plagiou um livro intitulado “O Diálogo no Inferno entre Maquiavel e Montesquieu”, publicado em 1864. Golovinski fez uma verdadeira colagem dos textos, adaptando e acrescentando apenas alguns pontos para que servissem ao nefasto propósito de seus clientes. Eis a verdadeira origem dos Protocolos dos Sábios de Sião.

  Essa é uma triste história contada por Will Eisner (1917-2005) no seu último álbum: “O Complô - A História Secreta dos Protocolos dos Sábios de Sião” – publicado aqui no Brasil pela Cia. das Letras. O autor dedicou anos em pesquisas a fim de levantar todos os dados do caso e seus desdobramentos. Ao acompanhar seu relato, apresentado magistralmente na linguagem dos quadrinhos, temos uma clara idéia dos danos que esse manuscrito exerceu, colaborando para fomentar ainda mais o anti-semitismo pelo mundo afora. Através da obra de Will Eisner ficamos sabendo que, de Henry Ford, que mais tarde se retratou quando se convenceu da farsa, a Hitler, os Protocolos vêm sendo utilizados para “alertar” o mundo dessa suposta ameaça judaica. Na Europa, por exemplo, nas décadas de 1920 e 1930 os Protocolos eram quase tão populares quanto a Bíblia. Segundo o livro de Eisner, não há quase ou nenhum movimento de intolerância aos judeus que não tenha sido influenciado pelo panfleto. Ainda hoje, esses livros são publicados entre árabes, europeus e asiáticos, não obstante as provas trazidas a lume em 2002, publicadas pelo jornal parisiense Le Figaro, que atestam definitivamente a falsificação.

  O mais impressionante é que, mesmo diante da exposição dessa fraude, inúmeras pessoas desinformadas aceitam essa idéia sem a mínima noção do que estão fazendo. Colaboram para a sobrevivência daquilo gerou os Protocolos: o ódio e a intolerância por um povo. Isso é racismo. Umberto Eco, que escreveu a introdução do álbum de Eisner, comenta: “Como se pode explicar a resistência contra todas as provas e o perverso apelo que esse livro continua a exercer?”. Ele conclui não muito otimista: “Acredito que – apesar de corajoso, e não cômico, mas trágico livro de Will Eisner- essa história está longe de terminar. Ainda assim, é uma história que merece ser contada, porque devemos combater a Grande Mentira e o ódio que ela cria”.

sábado, 6 de junho de 2009

Tirando da caixa

  Muito bem bolado esse comercial da Audi. Vi outro dia na internet e não pude deixar de postá-lo aqui. Mérito da produtora 1stAveMachine de Nova York.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Ontem, sob um novo olhar


  Comecei a trabalhar em computadores em meados de 1993. Como desenhista de prancheta, precisei passar por um pequeno período de adaptação. Lembro que após alguns meses e já dominando as ferramentas disponíveis em programas como Corel Draw e Photo Styler, todas as vezes que voltava para a prancheta e cometia algum erro, meus dedos chegavam a iniciar um movimento para acionar as teclas CTRL+Z. Esse é o atalho para desfazer operações mal-sucedidas nos programas com base em Windows. O engraçado é que isso era quase freqüente no início, tamanha minha inserção no mundo virtual. Obviamente, no mundo real o único recurso que tinha nesses momentos era bem menos prático: uma borracha aqui, uma raspada com o estilete ali...

  Acho que todos nós já pensamos pelo menos uma vez na vida, na possibilidade de voltar atrás no tempo para mudar uma decisão precipitada ou alguma palavra impensadamente proferida, dentre outras coisas, numa extensa lista. A idéia de poder desfazer nossos erros viajando ao passado é extremamente atraente. A possibilidade de desferir um CTRL+Z em certos momentos da nossa vida e simplesmente deletá-los do nosso histórico – como no Photoshop - bem como suas conseqüências, é pura ficção. Trata-se de um pensamento hipotético sem chances de ser realizado. Podemos lidar com os problemas do passado, mas não da maneira como gostaríamos.

  Esquecemos que se isso fosse possível, perderíamos ótimas chances de nos tornar pessoas melhores e jogaríamos fora uma das principais características da humanidade: a de aprender com os próprios erros e amadurecer. Declarações do tipo: “se fosse hoje faria de outro jeito”, ou “não devia ter dito aquilo”, são freqüentes e em muitos casos se transformam em pesados fardos que muitos carregamos dentro de nós, disfarçados da melhor forma possível. Pergunto-me se isso é mesmo necessário. Se não é melhor tomar uma posição positiva diante dos fatos, como comenta a autora Lya Luft em seu livro “Perdas e Ganhos”: “Na relativa lucidez da maturidade veremos que a maior parte desses “buracos” se tornam menos funestos quando se constata: “naquele momento, naquela circunstância, eu fiz o melhor que podia.” Quase sempre havia um motivo: filhos pequenos, problema do companheiro, real dificuldade em se afastar concretamente da casa ou da cidade, a pressão social ou familiar, havia... nem sempre coisas negativas. Apenas realidades com as quais se tentou lidar como se podia àquela altura”. E ela conclui: “Amadurecer serve para isso: o novo olhar, na lucidez de certo distanciamento, permite compreender aspectos nossos e alheios antes obscuros. Por vezes promove-se uma espécie de anistia. Partindo dela podem-se reconfigurar padrões.”

  Isso me leva a pensar em outro aspecto que devemos considerar, que é a nossa incapacidade de prever o futuro. Adaptamo-nos a novas realidades. As conseqüências daquilo que parece ruim no presente podem ser benéficas a médio e longo prazo no futuro. Como no caso de uma conhecida comerciante de roupas que perdeu seus investimentos e precisou vender as aquisições alcançadas após anos de trabalho árduo, para pagar as dividas. Em pouco tempo, mudou de uma vida na esfera da alta sociedade, de coquetéis glamorosos e viagens ao exterior para outra, onde depender de ônibus passou a ser a única maneira de se locomover. Um ano após esses eventos ela ainda revivia a situação, pensando que poderia ter agido de maneira diferente para evitar a falência. Mas apesar de ter passado por momentos difíceis, ela se adaptou e hoje não trocaria sua vida simples por nada. Investiu em talentos que estavam a sua disposição o tempo todo esperando apenas serem percebidos e utilizados. Se pudesse voltar ao passado, provavelmente não faria nada para mudar o curso dos acontecimentos que lhe trouxeram a presente realidade, pois encontra muito mais prazer na vida agora do que outrora.

  Difícil aceitar, mas se pararmos para analisar, concluiremos que passamos a maior parte do tempo no nosso passado ou futuro. Negligenciamos o presente por causa da nossa inabilidade para resolver situações que já ocorreram e que influenciam aquilo que somos e fazemos hoje, das quais parecemos não ter domínio. Ao mesmo tempo somos tomados pela tensão gerada pelas incertezas do futuro, antecipando um sofrimento desnecessário, fruto das preocupações que temos sobre fatos que muitas vezes tem uma probabilidade mínima de suceder.

  Fixar nossa atenção no presente pode nos levar a perceber que a realidade não é tão dura assim, que nossos problemas podem ser apenas uma questão de perspectiva. Podemos perceber novamente que a vida é uma dádiva de Deus da qual se deve tomar posse agora. Que os efeitos do passado são apenas sombras que podem se tornar um arco-íris de diferentes cores que refrigeram e revigoram ao invés de inquietar. Quanto ao futuro, um horizonte de infindáveis perspectivas e surpresas por se desdobrar.

  Certa vez, Martin Luther King declarou com propriedade: “Não estamos onde queremos estar, não estamos onde estaremos, mas certamente não estamos onde estávamos ontem.”

  E se nossa sensibilidade estiver aflorada perceberemos que nunca estivemos sozinhos.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Eu faço, e quem não faz ?

  Há certas coisas que a gente faz e depois fica com a estranha sensação de que acabou de cometer um deslize. Aquele tipo de coisa que você tenta evitar mas quando dá por si, se pega em flagrante. Neste ponto, é tarde demais e só resta fingir que não aconteceu nada. Bem, existem casos, e eles são a maioria, em que não existem testemunhas e o único dedo acusador apontado no nosso nariz procede de nós mesmos.

  Pelo menos para um desses casos, que parece fazer parte do cotidiano de muita gente, encontrei a redenção. Graças a uma campanha bem bolada que acabou se tornando um viral na rede, descobri que fazer xixi no banho não apenas é aconselhável, como também colabora para preservação da água potável do nosso planeta. Confira aqui a brilhante idéia da F/Nazca para a fundação SOS Mata Atlântica e aprenda como esse hábito pode contribuir para a preservação dos recursos naturais.



 Adeus peso na consciência.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Origens 1



  Existem pessoas que parecem não ter tido infância. Eu procuro refrescar a memória com a minha freqüentemente. Minhas lembranças da tenra idade pululam quando me sinto afetado por notícias como a filmagem de um novo episódio de Indiana Jones ou, mais recentemente, a nova versão de Jornada nas Estrelas para o cinema. Na verdade, desde criança, sempre tive uma inclinação para o que hoje chamamos de cultura pop.

  Lembro da primeira vez que fui ao cinema, levado pelo meu irmão mais velho, para assistir Superman – O Filme. Não demorou muito tempo para que, posteriormente, eu aparecesse com um “S” estampado no peito e uma capa - qualquer pedaço de pano servia, pois pra mim não fazia diferença- tentando voar por ai, sem sucesso. Qual será o marmanjo que, na sua infância, não fez isso? Aposto, contudo, que nem todos tentaram fazê-lo com a elegância do Cristopher Reeve.

  Quando o Império Contra-Ataca, o segundo episódio de Guerra nas Estrelas (que na verdade é o quinto) foi exibido nos cinemas, mais uma vez ali estava eu, em companhia do meu bendito irmão mais velho. A jornada de Luke Skywalker para aprender a arte Jedi não passou despercebida e também pensei ter aprendido algumas coisas com o mestre Yoda. Resolvi então transmitir para meus coleguinhas. Formei um grupinho de discípulos e, por mais que tentássemos utilizar a ”força”, não conseguíamos mover um grão de areia sequer. Quem viu Yoda tirar um X-Wing submerso do pântano, vai entender o que eu digo. Mas ao menos, tivemos nossos sabres de luz que, estranhamente, pareciam cabos de vassoura para os adultos.

  Também peguei fila para assistir E.T. O Extraterrestre, mas não chorei no final. Mais tarde, fiz um E.T. com um pote de Danoninho, afinal de contas, o pote era o formato do corpo dele, ou quase. Só faltavam a cabeça e os pés, já que o E.T. quase não tinha pernas.
  Isso me leva a pensar em como o mundo imaginário recriado nos filmes podem incentivar a criatividade. Seriados como Buck Rogers, Galáctica, Jornadas nas Estrelas – que eu assistia, mas não entendia nada- me levaram a montar miniaturas de espaçonaves. Trambolhões que na minha mente de criança eram parecidas com as originais. Mas havia pequenos detalhes nelas que eram, digamos, essenciais. Esses não podiam faltar. A estranha forma da Millennium Falcon ou o formato de prato duralex onde ficava a ponte de comando da Enterprise. Além das miniaturas, cockipts de naves espaciais em tamanho real, tinham direito a cadeiras para navegadores de bordo e tudo.

  Aliás, falar em pratos me faz lembrar uma promoção feita pelo Claybom Cremoso - a margarina da menininha do “Nhac!” - que trocava um prato branco de vidro por certa quantidade (o número não lembro) de tampas dos potes. No meu bairro foi uma febre. A garotada revirava o lixo atrás das tais tampas. Eu, como grande conhecedor dos principais lixões da minha rua, não fiquei de fora. Minha mãe, que não sabia de onde saiam tantas tampas de claybom, ficava com o sorriso estampado no rosto. Mas essa história fica para outro post.

Reflexões de uma noite sem lua




  Vivemos em um mundo agitado. Tendenciosamente apelativo, o contexto do mundo em que vivemos é capaz de nos levar gradativamente para longe das coisas essencialmente importantes, se não estivermos em constante vigilância. Podemos afirmar que o sistema ao nosso redor procura incessantemente fazer-nos esquecer que existe um Deus que nos ama e se preocupa conosco. Distancia-nos das belezas admiráveis de um mundo que nos rodeia a todo o tempo, procurando incansávelmente chamar a atenção. Como pontuou o meu vizinho numa breve conversa quando voltávamos do trabalho: “Quando era menino, subia no telhado de casa para ficar admirando noites como essa.”- disse, fitando a lua cheia despontando no horizonte. Concordei, pensando que até alguns anos atrás fazia o mesmo. Mas agora, atolado de trabalho e responsabilidades havia perdido o hábito completamente.

  Imagino que experiências simples como apreciar a Via-Láctea estendendo seu manto no céu sem lua, o planar de um gavião na paisagem ou a intrincada teia de galhos das copas das árvores, fazem parte de um momento efêmero na vida da maioria das pessoas, graças ao patrocínio de um cotidiano nervoso e agitado. Com urgências que nunca terminam e uma profusão interminável, onde quase tudo tem vida curta e a atualização e o ritmo não param. De fato, numa sociedade cada vez mais exigente e doadora de desejáveis confortos promovidos pela sofisticação, o comodismo chega por osmose. O que se ganha, na verdade, não se compara com o que se perde e os excessos destituem a vida de sentido. A mente desprovida de profunda reflexão no universo e na sabedoria natural distancia o homem de Deus e de seu semelhante.

  Aqueles que apenas empanzinam seu ego possuem vidas que começam e terminam em si mesmos. Parecem se esquecer do sentido de sua existência, envoltos em suas casas bem aconchegantes, seus automóveis e aparelhos sofisticados. Cercados de todo o conforto em um ambiente personalizável. Bem parecidos com aquele homem rico, parafraseado por Brenan Manning, “que teve uma colheita de altíssima produtividade e fez provisões para uma ainda maior no ano seguinte. Ele disse a si mesmo: “Rapaz, você é um cara fantástico. Trabalhou duro, fez por merecer tudo o que veio até você e encheu sua cesta de ovos para o futuro. Agora, pegue, coma à vontade, beba até cair e aproveite a vida”. Naquela mesma noite, Deus abalou o senso de segurança dele: “Tolo! Esta mesma noite a sua alma será exigida de você; e todo esse seu patrimônio, quem desfrutará dele agora?””.

  Olhar para a grandiosidade da criação é desconcertante, leva-nos a olhar atenciosamente para nós mesmos e a levantar as mesmas perguntas. Qual será a razão de tudo isso? Qual é o sentido da vida?
Se Deus existe, Ele nos chama para uma vida plena onde a razão da nossa existência se encontra Nele. Portanto, voltando-nos para o Criador de todas as coisas descobrimos que podemos escolher muitas coisas na vida: carreira, cônjuge, passatempos, entre outras. Contudo, não podemos escolher nosso propósito, a razão de existirmos.

  O propósito da nossa vida cabe num outro propósito muito maior que Deus planejou para a eternidade. É isso o que devemos buscar. É o que descubro ao contemplar a imensidão do cosmos. Diferentemente do que podem expressar alguns pensadores, encontro a minha importância quando me deparo com minha aparente insignificância, pois posso admirar um universo que parece existir para causar uma mistura de prazer, respeito e estupefação em mim.