quinta-feira, 15 de outubro de 2009

De janelas abertas para o céu


  Semana passada estava numa loja carregando o meu celular quando tive minha atenção desviada para um objeto meio incomum. Do outro lado da rua estava exposto um telescópio refletor. Pertencia a uma loja de ferragens que além de vender materiais de construção e outras coisas também parecia funcionar como um bazar.

  Uma rápida olhadela bastou para avaliar a precariedade do material: lentes mofadas, cheias de poeira e provavelmente desalinhadas, tubo internamente sujo e com sinais de ferrugem denunciavam que o equipamento deve ter ficado guardado em algum porão escuro por décadas. A única ocular que existia não estava em melhores condições. Acho que apenas o tripé de madeira se encontrava em estado mais favorável. O telescópio estava ajustado para mirar uma antena que distava alguns quilômetros e imaginei que o proprietário da loja tivesse deixado assim para impressionar um possível comprador. O conjunto gerava uma imagem meio borrada, mas tudo bem. Telescópios refletores não são ideais para observação de paisagem e para uso com luz do dia pois são ferramentas projetadas para perscrutar o céu noturno. Conversei com o proprietário sem noção que a permanência daquele telescópio na calçada à beira de uma estrada, sob o tempo e sem uma única proteção somente ampliaria os problemas que já existiam no equipamento. Acho que ele não me deu muito ouvidos. De qualquer forma, tive curiosidade de saber o preço. E essa foi a única coisa que me impressionou.

  Sai da loja relembrando os tempos em que subia no telhado da casa de meus pais com um telescópio refrator de 60 mm. Naquela época, os postes de iluminação pública se localizavam a cerca de 150 metros de distância da nossa casa e não haviam muitas residências nas proximidades. A baixa iluminação dos arredores proporcionava perfeita condição para contemplar o céu estrelado. Com uma carta estelar em mãos e movido por muita curiosidade, mirava o meu equipamento para planetas, aglomerados de estrelas e galáxias. Claro que meu telescópio era bem fraquinho e muita coisa se apresentava como disquinhos de luz ou manchinhas indefiníveis contra a escuridão, mas eu vibrava mesmo assim. Passava horas no telhado em pé, no frio muitas vezes, e me admirava continuamente com as descobertas de cada nova busca.

  Lembro que tinha um filtro solar para observar o Sol com segurança. Dava para ver pequenos pontinhos escuros em sua superfície, as famosas manchas solares (sua concentração muda de acordo com os períodos de alta ou baixa atividade do ciclo solar que é de 11 anos). Nunca tive a sorte de ver bolhas ou granulações, fáculas ao redor das manchas ou uma explosão solar. Na verdade, acho que não conseguiria ver esses fenômenos com aquele equipamento mesmo se as condições fossem favoráveis. Mas o sabor da descoberta de novos mundos, por mais obtusos que se revelassem enchiam meu ser de êxtase.

  Hoje não moro em um bom local para observar o céu. Locais ermos se encontram relativamente longe da minha casa, mas o desejo de adquirir um novo telescópio já me acompanha há anos. A minha sempre presente paixão pelo cosmo e a possibilidade de começar a acampar de vez em quando para fugir da rotina tem servido de impulso para finalmente ceder a esse desejo. No passado, pretendia fazer astronomia amadora (esse é um campo da ciência que tem feito muito com contribuições importantíssimas). Quem sabe, não seja um bom começo?

  Estou pesquisando preços, verificando modelos... Daqui a algum tempo devo voltar a falar sobre o assunto, mas da próxima vez espero, com o deslumbramento de estar descortinando os mistérios do céu noturno mais uma vez.

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