domingo, 1 de abril de 2012

A Jornada da Alma

Eu estava na minha locadora predileta, no início da semana, carregando comigo um livro do Carl G. Jung,  quando um desconhecido que notou meu objeto de leitura, chamou-me atenção para o filme "Um Método Perigoso".
Ele assistira uma exibição da película ano passado, no Festival de Cinema do Rio, e achou a obra excelente. O filme entrou em cartaz, coincidentemente, neste fim-de-semana.  O dono da locadora, outro cinéfilo, indicou-me uma referência cinematográfica sobre o tema, que acabei alugando.

Acabei de assistir  A Jornada da Alma do diretor italiano Roberto Faenza. O filme é baseado no livro Um método muito perigoso: Jung, Freud e Sabina Spielrein – a história ignorada dos primeiros anos de psicanálise, de John Kerr. Trata-se de uma produção de 2003 que conta a história de Sabina Spielrein (interpretada por Emília Fox, de "O Pianista"), focando a sua vida a partir do início do seu tratamento em 1905, numa clínica em Zurique, pelo então jovem Carl Gustav Jung (Ian Glen), por quem se apaixona. O ponto de vista aqui é o da própria Sabina, que escreveu suas experiências em um diário, descoberto em 1977. Nessa película, o relacionamento entre ela e Jung, após a recuperação da histeria dela, tem um enfoque bastante romântico e, por isso, a narrativa não suscita as questões éticas do relacionamento médico/paciente com profundidade, ou mesmo os métodos de tratamento analítico do discípulo de Freud. As implicações desse romance no trabalho e no relacionamento dos dois analistas também não fica claro. O que pode decepcionar o público mais acadêmico. O próprio Freud aparece na narrativa somente através de citações e como fonte de conselhos, com o qual Yung se corresponde por cartas.

O importante aqui, portanto, é resgatar a história de Sabina (uma das primeiras pacientes de Jung e, mais tarde, discípula) cuja existência deixou seu impacto na vida dos pais da psicanálise, e a sua obra. Ela casou e fundou, em 1923, uma instituição chamada Creche Branca em Moscou (que ficou assim conhecida por ter todos os seus móveis e paredes pintados de branco), onde tratava crianças, inclusive aquelas com transtornos psíquicos, utilizando os métodos liberalistas que aprendera com o seu médico e ex-amante. O local foi fechado três anos depois pelas autoridades russas, sob a acusação de que tais métodos não eram de agrado do governo stalinista. O curioso é que o próprio Stalin matriculara um filho seu na instituição, com nome falso, como se soube mais tarde.
Sabina Spielrein era de origem judia, e foi assassinada, em 1942, por soldados nazistas na mesma cidade onde nasceu. Suas duas filhas também foram vitimadas com ela, e tudo o que nos restou da sua existência está anotado no seu diário.

Agora, depois de todas as boas indicações e dessa introdução, aumenta ainda mais o meu desejo de conferir Um Método Perigoso, de David Cronenberg.