sábado, 31 de dezembro de 2011

Liberdade, de Jonathan Franzen

Quando ouvi falar do romance "Liberdade" de Jonathan Franzen e do pretensioso epíteto de "O livro do Ano, e do Século", resolvi procurar saber mais sobre a obra. Li análises de críticos que confirmavam o brilhantismo do texto, embora se reservassem denotá-lo nos mesmos termos críticos do "The Guardian". Também procurei a opinião de leitores casuais cujas opiniões eram divergentes em seus comentários. Alguns consideravam um romance maravilhoso. Um verdadeiro tratado biográfico de uma família que atravessa quatro importantes décadas como cenário. Outros eram da opinião de que o texto era insosso e invariavelmente perdia-se em diálogos sem sentido ou simplistas demais.
Resolvi adquirir um exemplar e conferir por conta própria. Foi uma agradável experiência que me despendeu cada espaço de tempo livre das duas últimas semanas. O livro é realmente esplêndido e fico feliz por ser o último livro que tive oportuniade de ler este ano.

A história narra a vida intrincada da família Berglund. Uma família liberal estadunidense, de classe média, que acaba sendo sacudida pelas reminiscências do passado do casal, Walter e Patty Berglund. A narrativa atravessa os conturbados anos 1970, e se estende até o final da primeira década do século XXI, exibindo um panorama socioeconômico do País. Tece um painel realista sobre o problema da conservação ambiental e da atual preocupação acerca da incapacidade do planeta de suportar o desastroso impacto de uma sociedade em constante crescimento, com hábitos inconseqüentes de consumo e ocupação, em nome do sonho da aceitação, estabilidade e segurança. 

A obra também menciona a neurose e o medo que se instalou nos EUA após os atentados do 11 de setembro, e a consequente retaliação do governo Bush ao declarar a guerra ao terrorismo, com seus desdobramentos. Discorre sobre a opinião nacional divergente, movida pela mídia, após o fracasso das tropas em encontrar um arsenal de armas nucleares no Iraque - suspeita que levara o povo, com orgulho ferido, a apoiar a atitude do governo de invadir aquele País. A mesma mídia, aliás, que parecia apoiar aquelas medidas pelas mesmas razões. Tudo isso pulverizado em meio a narrativa intrincada sob a perspectiva de um casal em conflito com as suas escolhas, dúvidas, seus erros e acertos, e com o persistente e sempre presente espectro do passado. 

Dispensando o moralismo açucarado e pretensioso, o autor esmiuça a vida dos Berglund magistralmente, e apresenta personagens realistas com os quais qualquer leitor pode se identificar facilmente. Sem perder o ritmo, Franzen apresenta um final, se não ideal, pelo menos emocionante e comovente.
Enfim, após a leitura, só pude concluir o mesmo que a marcante personagem, que resolve escrever sua reveladora auto-biografia em terceira pessoa, intitulada como uma espécie de consolo para si mesma: "Todo mundo erra". 
Resultado: para mim, foi o melhor livro que li este ano.

"Liberdade" é uma publicação da editora Companhia das Letras.


sexta-feira, 11 de novembro de 2011

SUB SPECIE AETERNITATIS

Na semana passada, após ler um extrato que eu transcrevi do livro “A Insustentável Leveza do Ser”, postado no meu perfil de uma rede social voltada para leitores, uma das integrantes da minha tímida lista de amigos fez um comentário interessante: '… vejo que gosta da imortalidade de Kundera.' A palavra imortalidade fora sublinhado por ela. Fiquei um tanto curioso pela sua observação e, principalmente, pelo termo sublinhado - que somente mais tarde percebi tratar-se de uma referência a outra obra de Kundera, "A Imortalidade". Reli o texto que extrai do livro e tentei encontrar ali o sentido para seu comentário. Aquele extrato em nada sugeria o conceito da eternidade nietzschiana e spinozista que permeia a obra, mas gostei de fazer uma releitura e meditar um pouco à respeito.
Pensei o livro, a singular narrativa do autor. Lembrei dos personagens e a abordagem filosóficamente marcante da escrita de Milan Kundera, ao mesmo tempo observadora e perscrutadora das vidas que retrata no seu romance. O escritor evita contar a história daquelas pessoas como um expectador passivo que apenas discorre as atitudes delas e as consequências resultantes. Ao invés disso, Kundera se reserva ao papel de um observador contumaz e trata de discorrer o mundo interno das quatro personagens centrais de seu livro: Teresa, Tomas, Sabina e Franz.
Não há nada de estranho nisso, a maioria dos autores clássicos explora a psique de seus personagens. Mas Kundera faz isso de maneira espetacular recorrendo a diversas digressões ao passado daquelas pessoas para explicar suas personalidades, quase como que tentando dar-lhes uma razão própria, excluindo-as de qualquer julgamento moral. Ele faz esse exame imparcialmente, flertando com o determinismo. Escreve desculpando suas desventuras a fim de corroborar o escopo de sua teoria, para nos mostrar algo que os filósofos existencialistas chamam de condição humana. Faz questão de demonstrar os motivos internos que levam seus personagens a agir de determinada maneira, como que para eximi-los de julgamento quando interpretados de um ponto de vista externo, cuja pressão ele faz questão de esclarecer, o que é mais importante. 
Sua maestria em descrever humanamente essas duas perspectivas acaba levando o leitor a se identificar com as fraquezas dos seus personagens, que são também as nossas fraquezas.

Milan Kundera começa mostrando uma dessas histórias possíveis na vida de cada ser humano, que é inerente a cada um de nós: a visão que temos a partir de dentro. Nela, somos o centro das atenções, e conferimos a nós mesmos um centro de significância e desempenhamos o papel principal. Temos uma ideia exata de quem somos e uma certeza de importância imanente. Há metas, sonhos, memórias de uma história de vida linear que define nossa identidade e que são bases para nossas atitudes, dando-nos consistência. Enfim, somos os dignos personagens centrais da história. Pelo menos, da nossa história. Nela, temos a sensação de poder controlar o nosso destino, escrevendo novos capítulos dia após dia.
Mas essa é uma noção limitada e apenas uma parte incompleta do enredo.

Um bom exemplo que ilustra a limitação dessa visão interna e suas consequências é a ideia da importância do homem como o centro da Criação, que inspirou grandes pensadores a interpretar o mundo à sua volta de acordo com esse entendimento. Por conta disso, acreditavam que a Terra, lar do homem, era o centro do universo, com os planetas girando ao seu redor com uma coorte estelar a lhes fazer a honra nessa dança. O homem era o centro do universo. Do nosso ponto de vista, de fato, parecia que o sol, a lua e as estrelas giravam em torno de nós, afinal, descreviam seus circuitos de leste a oeste todos os dias e noites, o que levou à hipótese geocêntrica, aceita pela maioria durante muitos séculos. Essa interpretação foi muito bem recebida pelos religiosos. Outros pensadores (os heliocêntricos Johannes Kepler e Galileu Galilei, apenas para citar alguns dos mais famosos) que começaram a perceber que algo estava errado nessa interpretação - pois o fato de ser ou não o homem o centro de alguma coisa era irrelevante diante da verdade - foram perseguidos pelos geocentristas e, como não podia deixar de ser, pela Igreja, que durante muito tempo exerceu poderes de Estado. Foi determinado que a visão deles (o heliocentrismo, a teoria da terra e os planetas girando em torno do sol) era uma heresia, porque tirava o homem do centro da Criação. Mais tarde, não sem algumas baixas (falando modestamente), provou-se que a visão heliocêntrica estava correta. Não éramos mais o centro de um universo no qual os astros e toda a Criação desfilavam ao nosso redor. Tudo é muito, muito mais complexo e grandioso do que isso, como sabemos... Nossa mítica importância começou a declinar à medida em que passamos a conhecer melhor o universo que nos cerca.
Um ponto de vista interno e limitado pode colidir desastrosamente com a visão de fora, mais abrangente e realista (e, como descrevi acima, pode ser exatamente o oposto do que se pensa).

Millan Kundera também trata seus personagens a partir dessa outra história possível: a visão do lado de fora. O escritor e filósofo Mark Rowlands, Autor do livro "Scifi=Scifilo", descreve esse outro aspecto da seguinte forma:'(…) O efeito da segunda história, aquela contada do lado de fora, parece uma drástica realocação do nosso papel na trama. Longe de sermos o personagem principal da história, estamos reduzidos a um figuração. A história do lado de dentro gira ao nosso redor, mas na outra história cada um de nós é apenas um simples personagem em meio a muitos outros, um personagem cuja entrada em cena é determinada por outras pessoas e que não tem nenhum controle real sobre a hora da sua saída do palco. As coisas que impulsionam nossas vidas, as coisas que queremos, nossos planos, projetos e metas - aquilo que podemos chamar de nossa motivação - são o resultado de forças que não controlamos. Aparentemente, nosso papel foi escrito por outra pessoa. Temos pouco controle sobre o seu conteúdo e não temos a menor ideia de qual é o seu sentido.” Ele continua, de forma nem um pouco animadora: “...Além disso, somos individualmente o produto de forças que não escolhemos e que mal compreendemos. Não escolhemos nossos pais nem a época em que nascemos, e assim recebemos uma determinada herança genética sobre a qual não temos controle algum, mas que, até um ponto significante, tem controle sobre nós. Essa herança determina, em parte, as doenças a que somos suscetíveis e os limites de nossas capacidades intelectuais, atléticas e morais. Talvez não totalmente, mas o suficiente. Nascemos num ambiente que vai preencher o pouco espaço que sobra do que foi determinado geneticamente, um ambiente que, novamente, não escolhemos e sobre o qual mal temos controle, pelo menos durante nossos anos de formação. A maneira como somos e aquilo que fazemos são resultados de nossos genes e nosso ambiente, que, juntos, exercem em nós uma influência que compreendemos de forma bastante nebulosa. Era isso que os filósofos existencialistas, como Jean-Paul Sartre, por exemplo, queriam dizer quando afirmavam que somos jogados no mundo.”

Retornando ao meu exemplo, acrescentaria, para engrossar o caldo da nossa insignificância na segunda história, que vivemos num planeta com uma população de quase 8 bilhões de habitantes, que gira em torno de uma estrela que orbita uma galáxia onde existe bilhões de estrelas cercadas por seu próprios planetas. A nossa galáxia é apenas mais uma em meio a um universo que comporta bilhões de outras galáxias que também possuem seus bilhões de estrelas com seus respectivos planetas. Poderia citar ainda a teoria do multiverso, ou seja, a possibilidade da existência de outros universos independentes do nosso. Mas já deu pra entender onde quero chegar. Com essa pequena concepção do que existe lá fora fica meio dificil aceitar que Terra é o centro do Universo e que o homem é o centro da criação (bom, se você quiser, ainda pode admitir isso, afinal, nenhum alienígena desembarcou por aqui para dar um alô até agora).

O problema que quero mostrar aqui é aquele que encontramos quando tentamos conciliar as duas histórias, essas duas visões, a interna e a externa. Enquanto internamente somos o centro das atenções e de significado, do lado de fora não podemos ser nada disso absolutamente. O contrário também é verdadeiro: enquanto por dentro alguém pode se sentir um 'nada', quem o vê de fora pode encontrar nele um 'tudo'. Existe uma incompatibilidade aqui e um problema filosófico de duas versões da mesma história que deveriam ser verdadeiras mas não são. Alguém tem que estar com a verdade, ou então as duas versões combinadas deveriam corresponder a verdade. Mas por serem incompatíveis, não podem. Quando ambas são consideradas, uma história contradiz a outra. Algo como querer e não poder ou que deveria ser mas não pode. Esse paradoxo é chamado de condição humana. O que dá muito no que refletir e existem inúmeros problemas que resultam daí que são um apetitoso caldo filosófico.

Não é sem razão que o filósofo existencialista Martin Heidegger, disse certa vez, “o homem é o ser cujo ser é uma questão para si”.

Essa é apenas uma das muitas reflexões que fiz da leitura de “A Insustentável Leveza do Ser”. Encontrei ainda paralelos com o filme “La Dolce Vita” de Federico Fellini, que também discorre de maneira ainda mais crua a natureza dessas duas versões da mesma história, que corroboram o conceito de 'deveria ser mas não pode'. Uma amostra de como a leveza pode ser insustentável, pois é leve quando considerada de uma perspectiva externa, mas pode ser um peso do ponto de vista interno... 
Mas chega de divagações por hora.

sábado, 29 de outubro de 2011

Doce Rebeldia

Ontem peguei o novo volume da coleção de Calvin & Haroldo, que adquiri recentemente, e dei de cara com a "Canção do Yukon" que é uma introdução da obra. Ria enquanto lia, e lembrava do pouco do que a minha memória guardava dos velhos tempos de criança.
Os quadrinhos do Bill Watterson tem essa força, conseguem traduzir como ninguém, e sem moralismos, o que é ser criança, ao mesmo tempo em que filosofa sobre os principais problemas que assolam nosso século. Tudo isso através dos diálogos dessa cativante dupla: Calvin e o seu tigre de pelúcia Haroldo. Watterson capta também os desconcertantes momentos da vida de um casal com filhos e faz uma contundente critica sociopolítica do seculo XX.


A Canção do Yukon


Pegue o trenó, meu amigo felino
Fiz um lanche pra gente levar
Estamos prontos, e o nosso destino
É partir e não mais voltar!


Pros diabos com a velha vida!
Adeus, mamãe e papai.
Cansamos da rotina sofrida.
E, ao rabanete, diremos não mais!


Quero que a vida tenha sentido.
Quero brincar na neve o ano inteiro
E não meus pais berrando no meu ouvido
"O seu quarto está um chiqueiro".


Yukon é onde queremos morar!
Não há outra alternativa
Lá vamos gritar e xingar
E agir de maneira primitiva.


E àquela escola nefasta
Não mais iremos voltar
Aos professores tirânicos, um basta
Ninguém vai me ensinar a somar.


Legume é uma grande bobagem
Espinafre não faz crescer
De agora em  diante serei um selvagem
E só uso garfo se eu bem entender!


Nosos amigos serão lobos
Vamos dormir tarde e com eles uivar
A noite inteira sentados num toco
E de manhã queremos caçar.

Espero estar sendo enfático:
em mim ninguém vai mandar!
Ó terras geladas do Ártico!
Isso é que é vida! Mal posso esperar!


Nada de regras pra nós!
O tempo sem neve acabou.
Já vão tarde os adultos bocós!
Estamos de partida! Yukon Ho!

(Extraído do volume de "As aventuras de Calvin & Haroldo por Bill Watterson - Yukon Ho!", e que somente postei aqui porque meu filho de 5 anos ainda não sabe ler.)


Politicamente incorreto? Troque os problemas de uma ingênua criança de 6 anos pelos seus e pense se, no final das contas, você também não gostaria de estar em Yukon... Seja lá o que Yukon signifique pra você.

A Conrad publicou todas as tirinhas do Calvin & Haroldo em volumes encadernados. Bill Patterson, que começou a publicar as tirinhas em 1985, deixou de publicar tiras inéditas 10 anos depois, e foi relutante em comercializar o licenciamento de produtos com os seus personagens. O extrato acima é a introdução do álbum "As Aventuras de Calvin & Haroldo por Bill Watterson - Yukon Ho!". Todos os álbuns publicados pela Conrad podem ser adquiridos em livrarias especializadas ou na loja da editora.

Recomendabilíssimo!!!

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Agosto e suas impressões...

Último dia do mês. E eu, que pensei em postar tantas coisas neste espaço durante esse agosto que se despede, nada escrevi. Foram tantas situações interessantes, de reflexão, e captura  de sensações singulares, mesmo no rotineiro dia-a-dia. Momentos nos quais um simples registro fotográfico seria capaz de comunicar a sua aura, se clicados na surdina. Ficamos mais naturais (principalmente os não fotogênicos como eu) se fotografados sem perceber.
Embora o adágio 'uma imagem vale mais do que mil palavras' reflita uma grande verdade, jamais perdi a paixão pelo poder descritivo das palavras, e a sua capacidade de capturar e até transcender o objeto que representa, como que limando-o à perfeição. Pode ser a descrição de um sentimento, de um lugar real ou imaginário. Pode ser a representação de alguém... Se neste último caso uma imagem tem a vantagem de apresentar a criação de uma só vez em riqueza de detalhes, exaltando, inicialmente, um dos sentidos, imediatamente aquela impressão ecoa na mente, e se nos determos mais alguns instantes nas suas nuances e adentrarmos naquelas minucias e singularidades que a tornam ainda mais bela e única, então talvez sejamos capazes de expressá-la em palavras reveladoras. Expressar aquela beleza e perfeição que os olhos físicos são incapazes de enxergar, mas que estão patentes para a alma humana e sensível. Imagens que, apesar de projetadas na mente, nem por isso se fazem menos reais.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Amanhã

Sabe aqueles dias em que tudo parece ter falhado? Aqueles momentos nos quais, à noite após um balanço, a gente pensa: "Hoje eu não deveria nem ter levantado da cama."? Pois é, há dias assim. Foi pensando nisso, e por que levantei da cama hoje, que acabei procurando e encontrando na internet o vídeo de uma canção do Guilherme Arantes que sempre me ajudou a cortar o mal pela raiz. 


Nos difíceis dias da minha juventude eu costumava subir no telhado de casa à noite (meu antigo sanctum sanctorum) e cantarolar essa canção para as estrelas, preconizando o dia seguinte. Aliviava assim os problemas referentes ao trabalho, as derrotas temporárias, as decepções amorosas... Hoje, nostálgico, aproveitei que só tinha meu filho em casa e soltei a minha voz. Podia ter postado o áudio da minha performance aqui também, mas a experiência poderia ser chocante demais para ouvidos sensíveis.
Agora mais leve, vou dormir em paz.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Reflexões de ser

Irrompeu no mundo como consequência
Não como se para trazer ordem.
Tampouco para o caos e a confusão.
Inerente, pulsante vida
Insuflada de aspiração,
Determinação,
Construção, identidade.

De remota época, dali jamais se apartara
A busca de ideais.
Contudo, inconsequente,
Assim não se daria.
Pois assumida a vida
Embaraçada nos seus cuidados
De pragmática atitude e disposição
Outrora é inapropriado.

Alma,
Podeis permanecer envolta em névoa
Esconder-se como amaldiçoada.
Inacessivel,
Senão por vislumbre,
Sombra, sonho, fantasia.
Pois que, sob a forma deste mundo,
Parece a si que desajeita, desconstrói, deforma.
Não parece dispor ordem, pensais.
Porque já não sabe se desvirtua, detendo o ensino
Ou confunde, evitando o despertar.

Morte,
como se haverá de negar teu sorriso infame?
Para onde a existência? Pergunta-se.
Com que fm?
Não! Basta agora.
Tudo, menos a dor e a escuridão.
Qualquer coisa, menos a tristeza.
É necessário navegar no mar de incertezas.
Um novo e imaculado dia urge.

domingo, 17 de julho de 2011

Carros 2

Os famosos personagens motorizados estão de volta na nova animação da Pixar, Carros 2. Seu lançamento se dá cinco anos após o seu antecessor de 2006. O roteiro acompanha essa cronologia mas muda a receita e envolve o público numa aventura de muita ação e mistério.
Há um certo estranhamento logo na abertura, onde acompanhamos um novo personagem, o espião Finn McMíssil na iminência de uma grande descoberta num complexo de estações petrolíferas em meio a um mar tempestuoso e turbulento. Nesse instante, ele é descoberto pelos vilões e protagoniza uma fuga espetacular no melhor estilo James Bond. Aliás, esse estilo de filmes de espionagem é que vai dar o tom da narrativa.

Após a lograda tentativa de eliminar o agente e uma sugestiva frase do líder dos capangas, chamado Professor Z, estamos de volta à velha Radiator Springs onde encontramos o reboque caipira Mate, alucinado, depois de perceber que seu melhor amigo, Relâmpago McQueen, está de volta à pequena cidade para gozar merecidas férias após a temporada de corridas. Na calorosa recepção reencontramos todos os personagens da primeira aventura e as cenas seguintes relembram episódios hilários da história anterior, sendo muito mais divertidas para quem assistiu o primeiro filme. Há inclusive uma menção honrosa ao Hudson Hornet, o velho 'Doc', corredor aposentado e mentor no primeiro longa.

Mas não será agora que Relâmpago MacQueen gozará de descanso. Em uma sequência hilária ele acaba aceitando o desafio de disputar o Grand Prix Mundial, cujo prêmio será competido por campeões do mundo todo, os carros mais velozes do mundo. O campeonato é patrocinado pelo magnata Miles Eixodaroda para comprovar a eficácia de seu novo combustível, o Allinol, ecologicamente correto e que susbstituirá os combustíveis derivados do petróleo. Todos o corredores irão utilizá-lo  nas corridas que se darão em vários países. Só que dessa vez McQueen resolve levar consigo seu amigo Mate. E é aqui que está a grande sacada dessa sequência. As constrangedoras trapalhadas do ingênuo Mate, que se tornam uma grande dor de cabeça para o Relâmpago, são divertidíssimas.

Assim, o principal protagonista de Carros 2 não é o Relâmpago McQueen, mas o velho reboque Mate. O que achei uma jogada arriscada da produção, por causa do apego da criançada ao herói turbinado - levei meu filho ao cinema para assitir e de vez em quando ele me perguntava: "Cadê o Relâmpago MacQueen?". Bem, ele é importante para a trama, mas fica em segundo plano. Mas os roteiristas (Ben Queen, John Lasseter, que também é o diretor, Brad Lewis e Dan Fogelman) sabem o que fazem.


No primeiro longa o argumento era a transformação do playboy autosuficiente e ambicioso em um personagem com sentimentos, que passou a reconhecer a necessidade da amizade e encontrou a beleza nas coisas simples da vida. Houve romance e uma clara transmissão de valores que acabaram resultando numa narrativa madura, mais voltada para o público adulto. O arco da história de McQuenn era uma reflexão da própria vida pregressa do diretor John Lasseter como um workaholic que não dava devida atenção ao convívio familiar. 

A história aqui, não é de transformação, mas de confimação. Portanto, Carros 2 é mais descolado. Os valores morais estão lá também, mas não escancarados como no primeiro. A preocupação aqui é entreter de forma descompromissada a criançada. A escolha de Mate como personagem central é perfeita já que o próprio era responsável pelas sequências mais engraçadas do primeiro. Nessa aventura, todo o seu potencial é explorado. Principalmente a partir do momento em que ele se envolve acidentalmente na conspiração internacional e acaba sendo confundido com um agente secreto americano. Alías, a sequência que envolve Mate nesse imbróglio, que se dá num banheiro japonês enquanto ele está às voltas com uma parafernália eletrônica, é divertidíssima. Depois da confusão a gente acaba se perguntando quem é mais ingênuo, o caipira Mate ou os inteligentes agentes Finn McMíssil e a bela  Holley Caixadebrita que enxergam na sua carroceria enferrujada, no seu sotaque e no seu jeito, o disfarce perfeito de um agente veterano. Daí por diante a aventura de espionagem é uma verdadeira corrida - literalmente - para descobrir quem está por trás da sabotagem dos competidores e por quê.

A reprodução das cidades que dão cenário às corridas de rua e perseguições da película foram o principal desafio dessa sequência, em termos técnicos. A primeira versão de Carros foi ambientada em uma cidade fictícia do deserto estadunidense. Agora, a ação se dá nas ruas de Tóquio, Porto Corsa, na Itália e em Londres. Essa variedade de paisagens conhecidas provou-se um desafio para a equipe técnica que também foi responsável pela Paris da animação Ratatouille, de 2007. Cada prédio foi construído digitalmente pelo sofware CityEngine, planejado para construir ambientes urbanos em 3D, tornando Carros 2 a maior produção da Pixar em termos de cenários.

Carros 2 acerta na trama ágil e divertida, na escolha de Mate como personagem central e possui um apuro gráfico de encher os olhos! Os novos personagens estão bem introduzidos (o engraçado carro italiano de fórmula 1 Francesco, é o desafiante do McQueen da vez), os elementos que compõe a narrativa e as locações em outros países ampliam ainda mais o seu universo. Pena que não deu para assistir em 3D.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Variação

Vaga o vento
Afora o tempo
De onde, não sei
Em liberdade com si só
Enlevado segue.

Suave, quase um cicio
Em brisa delicada
Acaricia os fios.
Baforada íntima
No rosto,
o arrebatamento.

Vai-se num repente
Tormenta e confusão
Externam dela
Multiforme.
Depois, calmaria.

Calor e frio,
Nem mais nem menos
Para onde segue
Não se sabe
Sujeita-se.
Mas se pudesse optar
Aqueceria a própria vida.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Frágil

Li no blog do meu amigo Chabrol, que leu no perfil do Orkut da amiga dele, que plagiou do Quintana e que plagio aqui também, porque me tocou inexplicavelmente.

EPÍLOGO
Não, o melhor é não falares, não explicares coisa alguma. Tudo agora está suspenso. Nada aguenta mais nada. E sabe Deus o que é que desencadeia as catástrofes, o que é que derruba um castelo de cartas! Não se sabe... Umas vezes passa uma avalanche e não morre uma mosca...Outras vezes senta uma mosca e desaba uma cidade.

Mario Quintana


sábado, 25 de junho de 2011

Falling Skies

    Assisti ontem a nova teleserie Falling Skies, pela TNT. O começo foi interessante, embora estejam ali os ingredientes de outras obras da ficção pós-apocalíptica de invasão alienígena, já meio batidos. Os dois primeiros episódios localizam bem o espectador em meio à crise de um planeta Terra invadido por uma raça alienígena hostil, sem embromação. As motivações dos personagens, além do instinto de sobrevivencia, vão sendo mostradas aos poucos e, certamente, algumas subtramas que tem início aqui, ficarão mais evidentes nos próximos episódios. O que é de praxe, para manter o interesse. 

   Minha primeira impressão é que a estréia teve a intenção de impactar - com ótimos efeitos especiais para uma teleserie (Steven Spielberg é o produtor executivo) e muita ação  - por ser um tema já meio massificado, lembrando que o mercado cinematográfico trabalhou com o mesmo há pouco em Invasão do Mundo: A Batalha de L.A e Skyline, o primeiro a ser lançado e o segundo recentemente lançado em DVD aqui no Brasil, sem contar com a série V, da Warner. Considerando algumas diferenças desse último, o pano de fundo é o mesmo.
   Vale acompanhar a nova série na esperança de que fique mais interessante, com ênfase, espero, na tensão entre os protagonistas e vilões, caso contrário, se o roteiro basear-se apenas nos esforços da rebelião de encontrar um ponto fraco dos invasores para derrotá-los, ficaremos com mais um subproduto do gênero, com episódios de muita ação, cheio de clichês e pouca profundidade dramática. 

   Chamou-me a atenção o professor de História e guerrilheiro Tom Mason (sensatamente interpretado por Noah Wyle), com as suas teorias de guerrilha embasadas no seu conhecimento de estratégias de guerra históricos. Tom tem um de seus três filhos feito prisioneiro pelos invasores e alimenta a esperança de resgatá-lo.
   Em um dos diálogos com Tom, um dos protagonistas levanta uma questão acerca do design bípede dos invasores robóticos (foram mostradas duas classes de alienígenas, os skitters orgânicos com 6 pernas e os mechs, que são robôs de ataque).  Afinal, quando engenheiros humanos projetam robôs, eles o fazem obedecendo um layout semelhante ao do ser-humano, como que recriando um padrão físico coerente do próprio criador. No caso dos invasores, os criadores dos mechs não seguiram o mesmo princípio, possuindo eles 6 pernas por que projetaram robôs bípedes? A resposta pode estar relacionada a alguma surpresa a se revelar nos próximos episódios.

  O Canal TNT começou, no mês passado, a publicar um prelúdio para a série numa história em quadrinhos on line, como forma de promover o seu lançamento. Clique aqui e acompanhe o que já foi publicado.

  Semana que vem tem mais, veremos o que acontece...


quarta-feira, 22 de junho de 2011

Sensatez

Importantes são as decisões na vida do homem, aquelas de cunho transformador, às vezes inevitáveis. Podem, sem que ele perceba, a principio, abalar a estrutura do que constrói. Nem sempre é possivel calcular acertadamente os riscos inerentes e, principalmente, os imprevistos. Contudo, o homem não pode interromper seus passos adiante, sempre necessários e contínuos. Precisa se mover. Ele tem ideia da sua necessidade de mudança pois consegue percebê-la no mundo que o cerca. Ainda que não possa mensurar a sua medida e o seu alcance, o avanço, a evolução, a adaptação e o aprimoramento estão escritos em sua vida desde o momento da sua concepção. Percebe que a solidez pode permanecer, apesar das quedas, dos erros. Pois da queda ele se ergue, ganha forças, nos erros, aprende.
Ele caminha e faz escolhas. Ainda que num primeiro instante certas decisões possam parecer um pequeno desvio, mais adiante se revelarão uma correção de rota para a direção de seus objetivos, para aquilo que a própria vida definiu antecipadamente como o mais importante. 
Seu caminho não é uma estrada reta e larga, mas é uma estrada estreita, acidentada e sinuosa, emaranhada de trilhas e cruzamentos que podem levar os desavisados a lugar nenhum. Mas esses só se perdem porque são distraidos e não se importam com nada ou não percebem os próprios passos e não querem olhar em torno. 
O homem que se mantem no caminho certo, atenta para os sinais na estrada. Eles estão por todos os lados para auxilia-lo e mante-lo seguro. 
Seguro, mas não totalmente, mas não imune. E é bom que ele lembre sempre disso, pois no final, quase sempre, é a sua disposição que definirá o seu destino.

domingo, 22 de maio de 2011

Um domingo qualquer

Já fui criança. Quem não é já foi um dia, claro. Não sei qual era o jargão que usava todas as vezes que queria alguma coisa. Como eu passava a maior parte do dia com a minha mãe, acho que era o natural MANHÊÊÊ... Muitas vezes ouvia ela dizendo sarcasticamente, já enjoada de ouvir a mesma coisa o dia inteiro, que eu devia chamá-la pelo nome de algum doce. Afinal, as crianças adoram doces (e lógico, mãe e pai também).

Acordo por volta das 6h da manhã, noutro dia típico de domingo. Procuro levantar na frente do meu filho e da minha esposa para colocar os pensamentos em ordem e vou para meu pequeno escritório (que funciona meio como estúdio e sala de estar), enquanto navego pela internet e acesso o meu mailbox. Neste fim de semana trouxe trabalho extra para casa e utilizo essa janela de tempo, entre 6 e 8 horas da manhã, para definir o que fazer primeiro. Hoje não vai dar para sair com a família.
Estou diante do computador, aturdido em meio ao universo binário traduzido em forma de imagens e textos na minha tela, quando de repente irrompe pela porta do meu quarto um garotinho de 5 anos de idade com olhos meio murchos de quem acabou de acordar. Ele fica parado na entrada coçando a barriga e então solta um “ÔÔ PAAI...”. O pedido vem em seguida: “...faz chocolate pra mim?” . Lá vou eu pra cozinha preparar o chocolate (de quebra, já faço outro café pra mim também) enquanto ele vai vacilante para a sala ligar a TV.

Retorno para meus afazeres, numa tentativa de me concentrar e coloco uma música do Vangelis ao fundo, para inspirar . Meia hora depois meu filho aparece de novo: “ÔÔ PAAI (a cadência é mais ou menos essa), posso jogar Guerra nas Estrelas?” Ok, aqui cabe uma explicação: O pai é um fã de carteirinha dos icônicos personagens espaciais criados pelo George Lucas. E que coincidência, meu filho também é! Só que enquanto eu jogo títulos voltados para adultos como Star Wars Battlefront ou Republic Commando, meu pequeno padawan tem a sua própria versão do universo da Lucas Arts, o game Lego Star Wars; que, devo admitir, é um dos jogos mais divertidos que eu já tive o prazer de experimentar.

Estou novamente diante do computador, examinando o que servirá de base para a criação de novas estampas e procurando montar textos que se encaixem. Após me desejar um bom dia e depois uma boa conversa, minha esposa já está num vai e vem frenético, também com seus afazeres. Minutos depois, um som irrompe a melodia que enchia o ar: “ÔÔ PAAI... me ajuda?”. Lá vou eu, agora para tentar ajudar a salvar o bonequinho que o meu filho controla no jogo de algum 'buraco' onde ele o meteu ou resolver algum puzzle comum nesse tipo de game.


Dali a pouco ele desiste de jogar e vai brincar com seus brinquedos. Ouço meu filho fazendo o som de um motor de carro e o barulho do choque entre os carrinhos enquanto ele simula algum acidente exagerado que desafia as leis da gravidade. Só então vejo um gato passando correndo pelo corredor em frente à minha porta na direção de onde ele está. Fico somente aguardando. Alguns minutos depois o Daniel aparece: “ÔÔ PAAI, o gato não quer deixar eu brincar”. Dedé, nosso gato, é uma espécie de companheiro do meu filho. Ele é um filhote ainda, e adora brincar com tudo o que se move. Os carrinhos do Daniel são alguns dos seus brinquedos prediletos. Mas noto que ultimamente meu filho tem deixado o gato bem sem-vergonha com as suas brincadeiras de correr de um lado para o outro para se esconder dele, mergulhando atrás dos móveis. O Daniel fica parado, imóvel, com o Dedé olhando para ele sem mover um músculo mas em posição de ataque. Quando meu filho faz um movimento surpresa o gato corre saltitando até ele e os dois rolam no chão. Duas crianças numa brincadeira perigosa. Por causa disso, o gato já não pode mais ficar muito tempo dentro de casa. Quando o Daniel aparece no corredor engatinhando para lá e pra cá fazendo 'miau' vejo que é hora de dar uma volta com ele.
O dia está bonito, tem sol e o céu está com aquele belo tom azul típico dos dias de inverno. Levo meu filho para andar de bicicleta numa calçada próxima enquanto caminho a pé tentando acompanhá-lo. Quando voltamos já está quase na hora de almoçar, metade do dia se passou e eu não fiz nem a metade do que me programei para fazer. Talvez meu sobrinho possa passar a tarde lá em casa para brincar com o Daniel.
Do contrário, já sei o que me espera na outra metade do dia. E quer saber de uma coisa? Não consigo pensar como seria minha vida sem isso.

domingo, 15 de maio de 2011

Enfim, fui assistir Thor, O Deus do Trovão

  Desde os tempos de criança Thor sempre foi um dos meus heróis preferidos. O cara andava metido em sua pomposa armadura de capa vermelha, munido de um martelo mágico chamado Mjolnir (que ninguém era capaz de empunhar a não ser ele ), invocava tempestades em seu auxílio e, de quebra, era um deus amigo dos mortais. Não podia deixar de admirá-lo. Havia toda aquela mitologia nórdica e aquela linguagem antiquada dos deuses e criaturas de nomes estranhos que não me intimidavam e, ao contrário, foram abrindo caminho para leituras posteriores que aumentaram demasiadamente meu interesse por literatura fantástica numa época onde eu só lia gibis.
  Quando soube que Thor seria adaptado para os cinemas recebi a notícia com expectativa maior do que a de qualquer outro super-herói que já tinha virado filme, da Marvel Comics ou da DC Comics. Após o gratificante resultado dos longas de Homem de Ferro e O Incrível Hulk, eu esperava o melhor de Thor, já que a própria Marvel Studios vem produzindo os filmes dos seus personagens - pelo menos daqueles cujos direitos não foram vendidos para outros estúdios - permitindo que os heróis atuem num mesmo universo, semelhante ao que acontece nos quadrinhos. Encontramos referências do Capitão América no Homem de Ferro 2, Tony Stark dá o ar de sua graça no Incrível Hulk e os agentes da SHIELD, a misteriosa organização que amarra os filmes, preparam a chegada para Os Vingadores (outra carta na manga da Marvel). O fato de se manter o mais fiel possível ao que os fãs acompanham nos quadrinhos e o roteiros bem amarrados dos filmes, que funcionam tão bem na telona quanto nas HQs (faltando só as onomatopeias), geram o sucesso de franquias com muita coisa para explorar. E o fantasioso universo de Thor, criado por Stan Lee, Larry Lieber e Jack Kirby em 1962, possui aventuras de proporções épicas.
  Não foi sem razão que fui para o cinema na maior expectativa. Nem fiz questão de assistir em 3D, porque a produção não foi capturada com essa tecnologia e só entrou nessa onda na pós-produção. Esse processo não gera bons resultados e ainda pode estragar bons momentos da película (muita gente reclamou do 3D distorcido em Fúria de Titãs e agradeceu a Warner Bros. por não converter o último Harry Porter para o formato).
  A narrativa começa mostrando o primeiro contado entre os asgardianos (que vivem em outra dimensão) e os seres-humanos que os tomaram por deuses, surgindo assim, a mitologia nórdica. Relata em seguida um conflito ancestral de Asgard contra o reino dos Gigantes de Gelo, que vai ser o estopim da trama. Depois, somos rapidamente apresentados ao príncipe Thor (Chris Hemsworth), um líder guerreiro, impulsivo e vaidoso. O que é uma preocupação para seu pai Odin (Anthony Hopkins), que percebe que seu filho preferido não possui os atributos necessários para precedê-lo no trono.


  Após a frustrada invasão do palácio feita pelos Gigantes de Gelo que tentavam roubar um artefato de poder, Thor é motivado por seu irmão Loki (Tom Hiddleston) a liderar um grupo de amigos guerreiros para confrontar o inimigo, desprezando as ordens de seu pai. A demonstração da arrogância de Thor resulta na maior pancadaria contra o exército dos Gigantes de Gelo , quebrando uma já tênue trégua entre os reinos. Aliás, essa sequência é para mim uma das melhores de todos os tempos. Por desobedecer seu pai Thor tem seus poderes revogados e é banido para Terra, onde é encontrado por um pequeno grupo de cientistas.

   Mas é aqui que o roteiro peca, pois fica sem profundidade. Não temos tempo de conhecer aquele grupo comandado pela doutora Jane Foster (Natalie Portman), o que faz os personagens ficarem meio deslocados e não permite que nos apeguemos a eles. Talvez por isso fica difícil engolir a transformação do herói em sua estada na Terra e o surgimento rápido de amor por Jane. Os diálogos também não ajudam muito e parecem 'amarradinhos' demais, chegando a incomodar. O mesmo acontece com o grupo de guerreiros amigos de Thor enquanto permanecem em Asgard e acompanham a traição e ascensão de Loki, o verdadeiro inimigo. Sobra pouco tempo para conhecê-los e por isso não existe espaço para dramatizações. Embora exista um momento emocionante: Quando Thor recebe seus poderes de volta empunhando o poderoso martelo Mjolnir.
  O duelo entre Thor e o Destruidor é bom e chega a entusiasmar mas podia ter sido bem melhor. Tudo acontece rápido demais e o final apoteótico não é tão impressionante como a primeira sequência de ação da película, que para mim, vale pelo o filme inteiro.
  No final, ficou a sensação de que faltou alguma coisa. Pareceu-me uma daquelas publicações de capa dura, encadernação e impressão luxuosas e arte impecável mas com um roteiro fraco. Não que devesse impressionar, ficou no nível do filmes já citados da Marvel Studios, mas não é o melhor. Valeu o ingresso e fica aqui a recomendação.
  A próxima aposta da Marvel é o filme Capitão América – O Primeiro Vingador, aguardado ansiosamente pelos fãs. Entra em circuito no dia 29 de julho aqui no Brasil.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Feliz Aniversário

Foi em 2009 que comecei a postar neste blog. De lá pra cá muita coisa aconteceu. Enormes lacunas de tempo se abriram nas quais palavras não pareciam se encaixar. Muita coisa foi escrita, mas com pena invisível. Muitas outras foram vividas, com os sentimentos a flor da pele. Coração quase perdido. Postagens em falta. Perplexidade de ideias, mundo sem chão.

Contudo, nunca esquecerei como este espaço começou. Com os estímulos de uma talentosa amiga que escreve com a sensibilidade de quem toca o intangível. Hoje é o seu aniversário. Rendo-lhe minha homenagem e me reservo a honra de postar três textos que extrai de seu blog:


AC

Eu não gosto de maus tratos
eu aguento até os estetas
e compreeendo piedades
e o que não gosto de politicagem
eu aguento até rigores
eu hospedo banidos
eu nao julgo competência
eu aplaudo idealistas
eu não condeno escolhas
eu gosto dos que morrem de vontade
dos cheios de desejo, dos que ardem
eu gosto do silêncio, gosto de pensar
gosto dos livros... cores que não sei o nome
presto muito atenção nas coisas que dizem
eu quero chegar antes...
eu gosto de opostos, exponho meu lado, me mostro
eu gosto de poesia, poetas, profetas
gosto de ver, rever entender...

não ligo pra muitas vaidades...
eu odeio superficie, amargores, rancores
gosto de rubores, avanços
eu aguento até cobranças
mas o que eu não gosto de repetitiva
gosto de contemplação
Amo a Verdade, a Palavra e sua riqueza 



Tentativa e Erro

O espírito inquietava-se diariamente,
com facilidade, caloramente...
era grande e ardoroso
contagioso e vulcânico...
De ideias e de intuições geniais,
sem paciência para o trabaho lento e detalhado...

E a resolução às vezes vencia e outras perdia
Muito embora os acertos recompensassem
as escolhas erradas cobravam seu preço

Aceno de forma fraca, sorrio e luto bravamente
já sem forças em mim...

Enorme e rude, o medo é arrogande, impiedo e improdutivo
E de repente meu peito se encheu...
Mas os olhos ainda brilham e a esperança forja a paciência
Tentativa e erro... 



Equilíbrio

 

De repente minha vida sumiu
Sumiu aos meus olhos.. Diante de mim…
E nesse tempo verei meu espírito
partir em pedaços
e se recompor
sob milhões de aspectos
um espírito novo feito da síntese
Síntese de infinito e finito, de temporal e de eterno,
de liberdade e necessidade, uma síntese…
E verei meu espírito se recompor
sob milhões de aspectos… um espírito novo… uma síntese…
Em equilíbrio...

A ararinha e a coruja

  Foi com uma grande dose de emoção que entrei na sala exibição para assistir à animação Rio, de Carlos Saldanha. Não era exatamente uma euforia causada pela película em si. Segundo me informara, na primeira oportunidade de realizar um projeto próprio, o brasileiro que alcançou uma bela projeção hollywoodiana com a trilogia Era do Gelo, já possuía esse projeto em mente há algum tempo. Contudo, ele pareceu preferir mostrar o Brasil pelos padrões estereotipados formados nas décadas de 1940 e 1950. Segundo os americanos  vivemos num país exótico e colorido, do futebol, de abundantes peladas (com perdão dos trocadilhos), onde sempre é carnaval e a malandragem corre solta (quem não se lembra do papagaio Zé Carioca, personagem criado pelo Walt Disney, numa tentativa de promover uma política de boa vizinhança e ajudar a despejar os demais personagens por aqui).

  Apesar dessas facetas o filme é envolvente e consegue arrancar gargalhadas durante a agitada narrativa: Blu, uma ararinha azul criada desde filhote por uma mulher chamada Linda, em Minnesota, e considerada o último exemplar macho do mundo, é trazido ao Rio de Janeiro para procriar com Jada, uma fêmea meio selvagem, a fim dar continuidade à espécie. Lógico que algo sai errado e o casal acaba se metendo em monte de encrencas.

  Mas, como eu disse no início, minha alegria não era resultado de alguma expectativa com a animação, que na verdade, me surpreendeu. Eu estava agitado porque eu e minha esposa levávamos nosso pequeno filho de quase cinco anos para sua primeira sessão de cinema. Meio tardia para quem tem um pai cinéfilo, que aguardou ansiosamente o primeiro contato do filhão com a telona. Pode parecer bobagem, mas numa época de disseminação de mídia como a que vivemos hoje, onde qualquer pessoa pode acessar um lançamento simultaneamente (e até antecipadamente em alguns casos) sem precisar pagar a entrada de um cinema (afinal, a pirataria está em cada esquina), é comum achar que essa magia, o cheiro da pipoca, a textura do ingresso, a sala escura, o estofado, a projeção no telão e toda aquela experiência coletiva não impressionem mais. Afinal de contas, o que pode ser melhor do que um aconchegante sofá, o conforto do lar e ter de quebra o controle total da exibição de um filme? Respondo: Produções cinematográficas foram feitas para os cinemas e apenas ali a gente pode alcançar a real percepção e dimensão dessa arte.

  Ok. Após todo esse discurso posso dizer aliviado que meu filhão puxou o pai e saiu do cinema tão animado que parecia que ia decolar como uma ararinha azul. 

  Podem dizer o que quiser do filme do Saldanha, mas o que importa é que ele me conquistou quando me predispus assisti-lo no mesmo espírito do público para qual ele foi feito. O espírito de uma criança. Uma criança com quase 40 anos na verdade.