quarta-feira, 13 de abril de 2011

Feliz Aniversário

Foi em 2009 que comecei a postar neste blog. De lá pra cá muita coisa aconteceu. Enormes lacunas de tempo se abriram nas quais palavras não pareciam se encaixar. Muita coisa foi escrita, mas com pena invisível. Muitas outras foram vividas, com os sentimentos a flor da pele. Coração quase perdido. Postagens em falta. Perplexidade de ideias, mundo sem chão.

Contudo, nunca esquecerei como este espaço começou. Com os estímulos de uma talentosa amiga que escreve com a sensibilidade de quem toca o intangível. Hoje é o seu aniversário. Rendo-lhe minha homenagem e me reservo a honra de postar três textos que extrai de seu blog:


AC

Eu não gosto de maus tratos
eu aguento até os estetas
e compreeendo piedades
e o que não gosto de politicagem
eu aguento até rigores
eu hospedo banidos
eu nao julgo competência
eu aplaudo idealistas
eu não condeno escolhas
eu gosto dos que morrem de vontade
dos cheios de desejo, dos que ardem
eu gosto do silêncio, gosto de pensar
gosto dos livros... cores que não sei o nome
presto muito atenção nas coisas que dizem
eu quero chegar antes...
eu gosto de opostos, exponho meu lado, me mostro
eu gosto de poesia, poetas, profetas
gosto de ver, rever entender...

não ligo pra muitas vaidades...
eu odeio superficie, amargores, rancores
gosto de rubores, avanços
eu aguento até cobranças
mas o que eu não gosto de repetitiva
gosto de contemplação
Amo a Verdade, a Palavra e sua riqueza 



Tentativa e Erro

O espírito inquietava-se diariamente,
com facilidade, caloramente...
era grande e ardoroso
contagioso e vulcânico...
De ideias e de intuições geniais,
sem paciência para o trabaho lento e detalhado...

E a resolução às vezes vencia e outras perdia
Muito embora os acertos recompensassem
as escolhas erradas cobravam seu preço

Aceno de forma fraca, sorrio e luto bravamente
já sem forças em mim...

Enorme e rude, o medo é arrogande, impiedo e improdutivo
E de repente meu peito se encheu...
Mas os olhos ainda brilham e a esperança forja a paciência
Tentativa e erro... 



Equilíbrio

 

De repente minha vida sumiu
Sumiu aos meus olhos.. Diante de mim…
E nesse tempo verei meu espírito
partir em pedaços
e se recompor
sob milhões de aspectos
um espírito novo feito da síntese
Síntese de infinito e finito, de temporal e de eterno,
de liberdade e necessidade, uma síntese…
E verei meu espírito se recompor
sob milhões de aspectos… um espírito novo… uma síntese…
Em equilíbrio...

A ararinha e a coruja

  Foi com uma grande dose de emoção que entrei na sala exibição para assistir à animação Rio, de Carlos Saldanha. Não era exatamente uma euforia causada pela película em si. Segundo me informara, na primeira oportunidade de realizar um projeto próprio, o brasileiro que alcançou uma bela projeção hollywoodiana com a trilogia Era do Gelo, já possuía esse projeto em mente há algum tempo. Contudo, ele pareceu preferir mostrar o Brasil pelos padrões estereotipados formados nas décadas de 1940 e 1950. Segundo os americanos  vivemos num país exótico e colorido, do futebol, de abundantes peladas (com perdão dos trocadilhos), onde sempre é carnaval e a malandragem corre solta (quem não se lembra do papagaio Zé Carioca, personagem criado pelo Walt Disney, numa tentativa de promover uma política de boa vizinhança e ajudar a despejar os demais personagens por aqui).

  Apesar dessas facetas o filme é envolvente e consegue arrancar gargalhadas durante a agitada narrativa: Blu, uma ararinha azul criada desde filhote por uma mulher chamada Linda, em Minnesota, e considerada o último exemplar macho do mundo, é trazido ao Rio de Janeiro para procriar com Jada, uma fêmea meio selvagem, a fim dar continuidade à espécie. Lógico que algo sai errado e o casal acaba se metendo em monte de encrencas.

  Mas, como eu disse no início, minha alegria não era resultado de alguma expectativa com a animação, que na verdade, me surpreendeu. Eu estava agitado porque eu e minha esposa levávamos nosso pequeno filho de quase cinco anos para sua primeira sessão de cinema. Meio tardia para quem tem um pai cinéfilo, que aguardou ansiosamente o primeiro contato do filhão com a telona. Pode parecer bobagem, mas numa época de disseminação de mídia como a que vivemos hoje, onde qualquer pessoa pode acessar um lançamento simultaneamente (e até antecipadamente em alguns casos) sem precisar pagar a entrada de um cinema (afinal, a pirataria está em cada esquina), é comum achar que essa magia, o cheiro da pipoca, a textura do ingresso, a sala escura, o estofado, a projeção no telão e toda aquela experiência coletiva não impressionem mais. Afinal de contas, o que pode ser melhor do que um aconchegante sofá, o conforto do lar e ter de quebra o controle total da exibição de um filme? Respondo: Produções cinematográficas foram feitas para os cinemas e apenas ali a gente pode alcançar a real percepção e dimensão dessa arte.

  Ok. Após todo esse discurso posso dizer aliviado que meu filhão puxou o pai e saiu do cinema tão animado que parecia que ia decolar como uma ararinha azul. 

  Podem dizer o que quiser do filme do Saldanha, mas o que importa é que ele me conquistou quando me predispus assisti-lo no mesmo espírito do público para qual ele foi feito. O espírito de uma criança. Uma criança com quase 40 anos na verdade.