Foi com uma grande dose de emoção que entrei na sala exibição para assistir à animação Rio, de Carlos Saldanha. Não era exatamente uma euforia causada pela película em si. Segundo me informara, na primeira oportunidade de realizar um projeto próprio, o brasileiro que alcançou uma bela projeção hollywoodiana com a trilogia Era do Gelo, já possuía esse projeto em mente há algum tempo. Contudo, ele pareceu preferir mostrar o Brasil pelos padrões estereotipados formados nas décadas de 1940 e 1950. Segundo os americanos vivemos num país exótico e colorido, do futebol, de abundantes peladas (com perdão dos trocadilhos), onde sempre é carnaval e a malandragem corre solta (quem não se lembra do papagaio Zé Carioca, personagem criado pelo Walt Disney, numa tentativa de promover uma política de boa vizinhança e ajudar a despejar os demais personagens por aqui). Apesar dessas facetas o filme é envolvente e consegue arrancar gargalhadas durante a agitada narrativa: Blu, uma ararinha azul criada desde filhote por uma mulher chamada Linda, em Minnesota, e considerada o último exemplar macho do mundo, é trazido ao Rio de Janeiro para procriar com Jada, uma fêmea meio selvagem, a fim dar continuidade à espécie. Lógico que algo sai errado e o casal acaba se metendo em monte de encrencas.
Mas, como eu disse no início, minha alegria não era resultado de alguma expectativa com a animação, que na verdade, me surpreendeu. Eu estava agitado porque eu e minha esposa levávamos nosso pequeno filho de quase cinco anos para sua primeira sessão de cinema. Meio tardia para quem tem um pai cinéfilo, que aguardou ansiosamente o primeiro contato do filhão com a telona. Pode parecer bobagem, mas numa época de disseminação de mídia como a que vivemos hoje, onde qualquer pessoa pode acessar um lançamento simultaneamente (e até antecipadamente em alguns casos) sem precisar pagar a entrada de um cinema (afinal, a pirataria está em cada esquina), é comum achar que essa magia, o cheiro da pipoca, a textura do ingresso, a sala escura, o estofado, a projeção no telão e toda aquela experiência coletiva não impressionem mais. Afinal de contas, o que pode ser melhor do que um aconchegante sofá, o conforto do lar e ter de quebra o controle total da exibição de um filme? Respondo: Produções cinematográficas foram feitas para os cinemas e apenas ali a gente pode alcançar a real percepção e dimensão dessa arte.
Ok. Após todo esse discurso posso dizer aliviado que meu filhão puxou o pai e saiu do cinema tão animado que parecia que ia decolar como uma ararinha azul.
Podem dizer o que quiser do filme do Saldanha, mas o que importa é que ele me conquistou quando me predispus assisti-lo no mesmo espírito do público para qual ele foi feito. O espírito de uma criança. Uma criança com quase 40 anos na verdade.
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