quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

De Gibran

"A vida é uma visão cheia de possibilidades e realizações doces e infinitas."


Gibran Khalil Gibran

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O Deus (in)visível, de Philip Yancey

Philip Yancey é um dos meus autores prediletos. Aprecio o seu estilo franco e questionador. Admiro, principalmente, o seu esforço para explorar e responder questões polêmicas que envolvem a fé cristã e que são, normalmente, evitadas por alguns líderes religiosos que preferem dar respostas insatisfatórias ou sair pela tangente, sem querer admitir a falibilidade de certos conceitos.
 
Neste livro Yancey procura traçar as bases de um verdadeiro relacionamento com Deus, pela fé. Escreve, principalmente, para aqueles que gradualmente a perdem - diluída nas dificuldades da vida e na crescente onda de dúvidas carentes de respostas.  Pessoas que descrevem seu relacionamento como uma problemática e  constantemente insatisfatório. O autor discorre sobre os diferentes aspectos de se relacionar com um Deus amoroso e invisível. Discursa sobre as diferentes formas de atuação divina na vida das pessoas. Escreve sobre as expectativas do crente e a decepção de muitos que não enxergam, em meio ao sofrimento, a mesma ação divina, por exemplo, descrita nas promessas dos Salmos. Pessoas que tentaram encontrar no mundo atual os mesmos sinais da presença de Deus encontrados nas Escrituras.
 
Como sempre, Yancey se vale de citações bíblicas e de frases de pensadores cristãos - e também daqueles de vertentes não-cristãs. Discorre sobre as próprias experiências de sucesso e fracasso na fé que exercita e das de outras pessoas também - algumas delas grandes nomes do ativismo cristão.
 
Tece argumentos para responder as questões que ameaçam a fé individual em um Deus pessoal que deseja ardentemente o relacionamento, mas é paradoxalmente invisível e estranhamente ausente.

O livro é meio longo, mas é mais uma grande obra do mesmo autor de Rumores de Outro Mundo e A Bíblia que Jesus Lia, que considero os melhores livros do Yancey que tive oportunidade de ler.

O Deus (in)visível
Philip Yancey
288 pág.
Editora Vida

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Coisas Frágeis


Coisas Frágeis, publicado pela editora Conrad em dois tomos (lá fora foi publicado num único volume), é uma antologia de diferentes contos e poemas escritos por Neil Gaiman. O primeiro conto, de nome revelador - Um Estudo em Esmeralda -, é uma curiosa conciliação de universos completamente opostos, feita por sugestão de terceiros, baseada nos universos criados pelos clássicos escritores de literatura fantástica Arthur Conan Doyle e H.P. Lovecraft (ou o racional e o irracional). Dois grandes autores da literatura detetivesca, de mistério e terror. O resultado, para a surpresa do próprio Gaiman, foi uma narrativa espetacular com um final surpreendente (detentora do Prêmio Hugo de 2004 de melhor conto).

Outro grande destaque deste tomo é O Monarca do Vale, que carrega uma atmosfera misteriosa de mitologia picaresca, protagonizada por Shadow, personagem desenvolvido por ele em Deuses Americanos, romance publicado em 2002. Aqui, Gaiman utiliza argumento e personagens do filme Beowulf, dirigido em 2007 por Robert Zemeckis, cujo roteiro foi uma pareceria entre Roger Avary e o próprio Neil Gaiman. Nesse conto eles aparecem numa versão bem diferente e interessante.

Embora tenha levado algum tempo para ler o primeiro livro - em parte por causa do pouco cuidado da Conrad com a diagramação e escolha da tipologia -, acabei por devorar rapidamente a segunda parte. Nesse segundo tomo, que além de contos possui prosa e poesia, o autor continua a desfilar misteriosos mundos, ora perturbadores, ora fascinantes. Para aqueles que gostam de lendas urbanas ou de estórias de fantasmas, tais como aquelas narrativas inquietantes ao redor de uma fogueira de campamento no meio da noite, essa antologia é um prato cheio. Da fantasiosa Noivas Proibidas dos Escravos Sem Rosto na Casa Secreta do Temível Desejo e Instruções, aos enigmáticos e fantasmagóricos Quem Alimenta Quem Come e Pó Amargo, Neil Gaiman tece contos de realismo fantástico e se prova um dos maiores expoentes da literatura fantástica dessa geração, conseguindo surpreender ou chocar.

Coisas Frágeis / Coisas Frágeis 2
NeilGaiman
205 pág. / 166 pág. (respectivamente)
Conrad


domingo, 6 de janeiro de 2013

Uma colcha de retalhos


A graphic novel Retalhos, de Craig Thompson - que li de uma tacada só - é mais do que simples leitura. É uma daquelas experiências visuais e literárias que te fazem embarcar em pura nostalgia com o mérito de levar à reflexão. Se você tiver convivido, por exemplo, um irmão com pouca diferença de idade, certamente vai relembrar vários momentos da infância com ele e das brincadeiras estúpidas protagonizadas na época - parte das memórias do próprio autor, cuja obra é autobiográfica. O mosaico de lembranças que Craig Thompson constrói com seu trabalho (como a metafórica manta confeccionada com retalhos de tecido que ele ganha de presente a certa altura da narrativa) descreve sua vida na infância e adolescência com todas as descobertas e dúvidas suscitadas em cada período. Evocam a importância que tiveram nas suas escolhas para a vida adulta. Parte importante dessa formação resulta do impacto que a religião teve na sua vida.
A primeira impressão que eu tive, ao ler o romance, foi a de que Craig procurou obter certa redenção do passado com sua obra, eliminando e procurando entender as sombras que o aprisionavam e ao seu talento, desde a infância até aos primeiros anos da adolescência. Um desabafo. Um basta. E uma explicação do como e do por quê. Não apenas para si mesmo.
 

Filho de pais protestantes e submetido a uma educação tradicionalista, Craig teve desde muito cedo, sua criatividade e talento para a arte solapadas pelo conservadorismo cristão da comunidade onde vivia. Essa repressão também estava presente em seus pais, contrastada com as constantes brincadeiras, nem sempre inocentes, protagonizadas com seu irmão na infância - o que é normal entre os meninos - e geralmente mal interpretadas. Em suas memórias, o garoto sonhador, curioso e altamente impressionável (toda criança é) se mostra geralmente frustrado pela falta de explicação para aquilo que não entende, bem como ameaçado pela fúria divina por causa das suas faltas. Os desenhos incipientes do futuro artista, acabam seguindo o mesmo caminho.
Com a pressão exercida pelo o que ele entende ser o mundanismo, o jovem, introspectivo e mal compreendido pelos colegas de escola, que não sabe se impor, se refugia na ideia de que esse não é o seu mundo. Em Certo ponto, Graig, pressionado pela religião, resolve queimar todos os seus desenhos e rascunhos, convencido que esses não agradam a Deus e que passara tempo demais fugindo da vontade Dele  - eu também cometi essa estupidez aos 23 anos, queimando um monte de livros e deixando para trás uma série de desenhos e rascunhos da década de 1980. Seu sacrifício selava um novo tempo de dedicação ao Reino de Deus.  Vale salientar que o autor registra de forma magistral a maneira como tal ideia lhe foi forçada através dos anos e imposta por pessoas que, bem intencionadas e movidas pela fé que professavam, viam no jovem uma ferramenta para as mãos de Deus.

Aconselham, afinal, que ele deve fazer um seminário para encontrar sua vocação.  E é aqui que vejo a maneira formidável como o autor descreve a sua escolha mais como resultado de uma imposição gradual, ainda que bem intencionada, daqueles que achavam o que era melhor para ele, do que pelo resultado de uma educação mais liberal que lhe desse o beneficio da dúvida. Os conflitos, no entanto, continuaram presentes através dos questionamentos relacionados com a fé que tencionava afirmar e a insatisfação com as explicações simplistas e conservadoras de seus tutores. Até que, no seminário, conhece Raina. Uma jovem  liberal e impulsiva - o seu oposto - que introduz vida e poesia à vida de Craig Thompson.
O traço lúdico e o simbolismo obscuro é irradiado de pureza e sensibilidade para retratar a epifania do seu encontro com a paixão. E a maneira como Craig revela essa etapa de sua vida é comovente. Seja pela ingenuidade das suas intenções e sentimentos para com Raina, cheios de pureza, seja pela maneira como eles vivem esse momento. O primeiro contato com a sensualidade perene. O primeiro beijo. A primeira contemplação do corpo feminino - tão angelicais e marcantes para o jovem Craig que, mais tarde, consegue capturar com a sua arte a riqueza e a pureza daquela experiência.
É simplesmente indescritível.
  
Retalhos é uma obra corajosa que não teme expor episódios desconcertantes da infância e adolescência de seu autor. Pode ser provocativa e constrangedora para alguns puristas e até para a sua própria família. Mas a sua força rompe barreiras e descreve a vida de muita gente enredada pelo tradicionalismo e repressão de instituições que proferem - embora, repito, com a melhor das intenções - uma filosofia de vida exclusivista, arrogante e antiquada. Alegando que além dos seus limites só existe pecado, caos e perdição. E não olham para o próprio umbigo.

 
A obra foi vencedora de três prêmios Harvey (melhor artista, melhor graphic novel original e melhor cartunista), dois prêmios Eisner (melhor graphic novel e melhor escritor/artista), e, em 2005,  do prêmio da crítica da Associação Francesa de Críticos e Jornalistas de Quadrinhos.

Retalhos
Craig Thompson
592 pág.
Quadrinhos na Cia.
   

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Menos é mais


É sábio e prudente analisar tudo o que for possível antes de atender as exigências que nos são impostas. É necessário ter calma e entender que nem tudo caminha ao mesmo tempo, no mesmo passo. Observar que a máquina da vida - trabalho, relacionamento e transações - possui camadas e engrenagens com seu tempo próprio.

O segredo é não fazer ou dizer o que vem primeiro à mente. Nosso primeiro pensamento pode ser - e quase sempre é - uma sombra disforme que precisa ser filtrada, processada, repensada. Um procedimento que deve anteceder nossas ações, que antes se dão na mente, depois no mundo real. 

É inutil permanecer num comportamento que não favorece o crescimento em qualquer área que se aplique.

Quase sempre, menos é mais.