quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Resgatando o romantismo

  Petrópolis é a minha cidade. Meu lar. Está privilegiadamente localizada em meio a Serra dos Órgãos sendo, por isso mesmo, dotada de uma beleza natural incomparável. Além dos atrativos turísticos – a cidade é herança de um sonho do Imperador Dom Pedro II -, conta com uma programação cultural bem variada: cinema, teatro, espetáculos de dança e música, exposições artísticas, sem contar com a gastronomia diversificada. A fundação de cultura e turismo do município mantém um site a programação cultural realizada a cada mês, bem como informações de serviços para turistas.
  Fiz uma breve visita a esse site no final do mês passado, procurando confirmar a data e o horário da “Serenata Imperial” que tem lugar no icônico Palácio de Cristal, na última quinta-feira de cada mês.

  Na quinta-feira, cheguei ao Palácio de Cristal pouco após as 20h; a serenata já estava começando. A banda era formada por seresteiros acompanhados pelo som dos violeiros, do cavaquinho, dos instrumentos de sopro e do pandeiro. O conjunto todo era conduzido por um animado coordenador que fazia também a introdução de cada composição que ia ser executada. No grupo composto principalmente por pessoas da meia-idade para cima, havia pelo menos quatros jovens que chamavam a atenção, e me despertaram a satisfação de ver que a juventude também se interessava pela boa música e demonstrava esse interesse no engajamento de um projeto tão especial. Projeto esse responsável por resgatar características tão fugidias da geração atual: o lirismo, a pureza da paixão proseada ou cantada em versos ora repletos de alegria, ora profundos na melancolia do amor não correspondido. O público estava representado principalmente pela terceira idade – uma boa parte eram turistas de Minas Gerais. A bela apresentação elevou-me acima dos problemas rotineiros, transferiu-me para algures e inundou-me de amor e paixão pela vida, trazendo à lume doces recordações que, ao serem revividas através das cantigas que enchiam o salão, recriavam as mesmas impressões da época.

  Lembrei-me, ainda com certo frescor, de ter participado do “Petrópolis em Serenata”. Um bairro vizinho foi visitado pelo evento e eu não pude deixar de ir, ainda mais convidado por um saudoso cliente e amigo. Na época, eu editava os convites. Meu cliente era um dos responsáveis pela realização do programa – que acontece até hoje –, privilegiando simultaneamente duas localidades da cidade por mês.

   Naquela noite, poetas, cantores, violeiros e o povo convidado, estavam reunidos no final da rua a partir da qual iniciaram as cantigas embaladas ao som dos instrumentos. Eu e minha esposa acompanhávamos o grupo que embalava canções dos compositores e intérpretes de saudosos anos que cobriam décadas do mais profundo lirismo. Tempo em que o romantismo era exalado nas ruas, diante das sacadas e janelas que se abriam ao som dos trovadores; no interior de bares e nas esquinas, em rebuscadas declarações de amor cheias de poesia e beleza. Compositores e intérpretes como Ari Barroso, Orestes Barbosa, Noel Rosa, Maisa, Vinícius de Moraes e muitos outros, eram homenageados. Enquanto soavam suas canções, entoadas pelos músicos numa passeata que crescia, descíamos a rua que terminava e dobrávamos a esquina para tomar um outro caminho, seguindo o itinerário pré-estabelecido. Aludindo aos poetas apaixonados, que se declaravam sob a sacada da janela de sua amada banhados pela luz do luar, frequentemente parávamos diante das casas, em canto, ao som dos violeiros. Atraídos para as sacadas e portões, os moradores se deliciavam com a melodia sentimental que enchia de enlevo aquela noite especial. Quando prosseguíamos nosso caminho, alguns desses moradores deixavam suas casas para seguir conosco. Ao final, quando terminamos de percorrer a rua derradeira, permanecemos na cantiga e a pedidos, outra e outra composição era executada, até que chegou a canção de despedida.

  Aquela, como essa noite de quinta-feira, foi para mim memorável e revigorante.

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